Batman v Super-Homem: O Despertar da Justiça de Zack Snyder é a mais recente longa-metragem de super-heróis a estrear e eventualmente um dos filmes - do género e não só - mais antecipados do ano colocando, frente a frente, dois dos mais emblemáticos ícones do género no mesmo filme. Refiro-me claro a Batman aka Bruce Wayne e Super-Homem aka Clark Kent.
Divididos e com receio sobre as reais intenções de Super-Homem (Henry Cavill), cujas acções não são controladas, os representantes da cidade de Metropolis exigem que as mesmas estejam em concordância com os princípios pelos quais se regem. Desconfiado da presença de um "deus" na Terra, Batman (Ben Affleck) enfrenta-o tentando dominar as suas capacidades sobrenaturais.
Enquanto o mundo se questiona sobre que tipo de herói realmente precisa, Lex Luthor (Jesse Eisenberg), liberta Doomsday, o maior terror para a segurança de Metropolis fazendo com que os dois heróis até então oponentes se concentrem na luta contra um mal maior com a ajuda de uma inesperada Super-Mulher (Gal Gadot) que se revela ao mundo.
Chris Terrio e David S. Goyer escrevem o argumento deste Batman v Superman: Dawn of Justice que mantendo-se fiel ao género de justiceiros implacáveis que pretendem e lutam pelo bem do planeta e da Humanidade são agora o alvo principal de uma sociedade com sérios problemas de confiança moral em entidades "superiores" num mundo com poucas referências que possam prezar pela sua idoneidade e valor moral. Se pensarmos em todos aqueles humanos que dotados de capacidade física, intelectual e financeira que podem ajudar o seu semelhante e não o fazem... é no mínimo "justo" questionar o porquê daqueles que com destreza física sobrenatural se preocupam em fazê-lo mesmo que nunca tenham colocado em questão a segurança da Humanidade e do Planeta no processo.
O mundo - vulgo Planeta Terra - está como o encontramos em qualquer noticiário deste século XXI. Crise de valores morais, crises financeiras, guerra, jogos de interesses políticos e económicos e muitos jogos de bastidores onde vence aquele que ou tem mais poder ou mais influência estando - estas duas - num passeio de mãos dadas. As mafias - ou elites num sentido mais lato da coisa - dominam pela sua influência - dinheiro - e as suas vontades não questionadas controlam os destinos de todos os demais porque querem, e podem, manter-se no poder protegendo-se mutuamente.
É então neste mundo desumanizado, sem líderes ou qualquer conforto moral que estes mesmos super-heróis vêem os seus papéis questionados não só por todos os demais como, principalmente, por eles próprios... Valerá a pena existirem num espaço que os questiona e às suas acções vendo neles potenciais perigos quando, na realidade, este já co-habita silenciosamente nas mesmas ruas?
Indo mais longe ainda, Batman v Superman: Dawn of Justice consegue ser ainda uma tranquila - ou talvez não - reflexão sobre os nossos dias quando se questiona como o homem mais poderoso do "Universo" - pelo menos aquele que ficcionalmente é conhecido - ser tão controverso... como é possível serem questionadas as intenções de alguém que sempre quis e fez bem - por outro lado... porque não questionar quem sempre quis e fez mal apenas porque tem poder financeiro que ninguém pretende ver desaparecer - estando ainda presente a velha dicotomia de que este planeta (terra... país) é "nosso" sendo o estrangeiro (alien) um elemento indesejado.
É então que no meio de muitos efeitos especiais visuais e sonoros e um conjunto de momentos dignos do mais interessante dos filmes de acção que o espectador mais atento percebe que afinal está perante uma história que, afastadas as questões "fantásticas", pretende claramente ser uma crítica - ou pelo menos apontar o dedo - ao maravilhoso mundo novo que teima em negar os princípios mais básicos questionando as intenções do "outro"... Uma sociedade que insiste em questionar aqueles que chegam vindos de outros locais mas que voluntariamente se esquece de conferir as intenções daqueles que diariamente cruzam os mesmos locais vendo nos seus actos pequenas "normalidades" de uma vida quotidiana e não um potencial ou crescente perigo que espreita e espera a primeira oportunidade de danificar tudo aquilo que foi lenta e cautelosamente construído com o passar dos anos. Um mundo que prefere questionar o bem que é feito em vez do mal que insiste em proliferar mesmo debaixo das suas "barbas" e que se reveste de inocentes - mas maléficas - vontades que apenas visam explorar, dissecar e eliminar todo o bem que existe. No fundo, é para nós humanos mais fácil aceitar um mal bem vestido do que aqueles que lutam pelo bem comum... Afinal, estamos tão habituados a que tudo seja tão mau que quando algo de bom aparece... esse sim, é que é de suspeitar.
Com um elenco de luxo onde se destacam nomes como o de Jeremy Irons, Diane Lane ou Amy Adams é, no entanto, os de Ben Affleck e Henry Cavill que se destacam pelo óbvio. Se de Cavill é agradável presenciar que volta a um desempenho enquanto protagonista numa carreira que parecia ter estagnado foi, no entanto, a presença de Affleck como o novo "Batman" que mais curiosidade suscitava visto que depois de Christian Bale esta personagem estava literalmente "colada" a um actor que a ela deu corpo e alma. Ainda que não seja - de momento - um fã absoluto de Affleck neste desempenho, os receios maiores de que não fizesse honra à personagem dissiparam-se e o benefício da dúvida está instalado. Coerente - e competente - Affleck surpreendeu como "Bruce "Batman" Wayne" e tanto a sua personagem como a de Cavill acabam por ser maiores do que eles próprios não lhes conferindo o devido desenvolvimento num filme que se arrasta durante tempo demais sem que as suas personagens sejam devidamente enquadradas. No fundo, aquilo que fica presente em Batman v Superman: Dawn of Justice é que este mais não é do que o aperitivo para as sequelas que se avizinham e que o franchise está vivo e de boa saúde... Afinal, quem é que arrisca dizer que não (des)esperou pela sua estreia?
Não tem o brilho ou o entusiasmo de Batman Begins, The Dark Knight ou The Dark Knight Rises - na prática apenas foi a apresentação de cortesia de todas estas personagens no mesmo espaço - mas, ainda assim tem o estofo suficiente para "abrir" mais uma série de títulos do género fantástico / super-heróis que agrada a qualquer fã. Fã este que - assumidamente - espera muito mais dos próximos títulos que irão dar continuidade a estes Batman v Superman.
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"Alfred: That's how it starts. The fever, the rage, the feeling of powerlessness that turns good men... cruel."
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