O Laço Branco de Michael Haneke é a mais recente obra do realizador alemão e o filme sensação de 2009 pela Europa e América do Norte tendo vencido três prémios na cerimónia do Cinema Europeu incluindo o Melhor Filme do ano bem como venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e obteve a nomeação ao Oscar na mesma categoria.
A história centra-se nos anos que antecedem a Primeira Grande Guerra numa pequena vila alemã onde estranhos casos de abuso e punição sucedem a vários dos seus moradores e onde em todos eles as jovens crianças da vila parecem estar sempre presentes.
Como não poderia deixar de ser Michael Haneke que já nos habituou a seu cinema extremamente duro e violento, quer pelas imagens abusivas quer pelos seus relatos a respeito da condição humana que podemos assistir nos seus filmes como por exemplo Caché ou Brincadeiras Perigosas, aqui entrega-nos outro relato sobre a mesma temática: a violência.
Se no caso de Caché a violência foi a perpetrada nas colónias francesas quer aquela provocada pelo silêncio a que foi remetida esta parte da História do país, e se no caso de Brincadeiras Perigosas a violência retratada é aquela gratuita pelo simples facto de se poder fazer bem como a "necessidade" voyeurista que todos nós temos, neste O Laço Branco a violência é retratada na sua origem.
Esta origem está, como é óbvio, associada ao facto de ser "ensinada" às crianças quer pelas punições e castigos que se lhes atribuem como forma disciplinadora e que, pela forma do hábito e da normalidade, acabam por ser pelas mesmas reproduzidas como a única forma de sociabilização que conhecem. Quando um comete um "erro" os outros encarregam-se de o punir da única forma que conhecem: a violência.
Curiosa é também a época escolhida para contar esta História. Tanto a da acção do filme como também aquela em que vivemos.
Referindo-me à primeira, a época em que a história do filme é contada, os anos antecedentes à Primeira Guerra Mundial, se pensarmos que a violência física e psicológica que era "ensinada" como força principal da formação das crianças, e se considerarmos que passados anos teríamos estes jovens como os adultos que comandaram e viveram na Segunda Guerra Mundial, teremos aqui explicada muita da sociedade de violência, repressão, medo e dor pela qual a sociedade alemã passou. Não que isto justifique nada daquilo que foi provocado pela acção do Homem mas, no entanto, a sociedade do medo que foram os anos 30 e 40 do século passado tem aqui uma explicação plausível quanto à sua origem. As crianças que viram como única forma da sua educação o medo e a repressão, a violência causada pela sua "indisciplina" e o medo ao chefe (neste caso o pai), seriam os mesmos que perto de vinte anos depois estariam também eles a perseguir, violentar e amedrontar aqueles que, à altura, seriam considerados os "problemáticos da sociedade".
Aplicando isto tudo aos dias de hoje dá que pensar, pelo simples facto de ligarmos a televisão e assistirmos a um noticiário qualquer, a sociedade e os jovens que estamos hoje a criar e a educar, e especialmente o que será deles daqui a uns quinze ou vinte anos. Mas, será que pensamos efectivamente nisso?
Um filme que é contado ao estilo muito próprio do realizador alemão e que como sempre toca em questões e problemas que estão de certa forma ocultados, escondidos ou esquecidos por todos nós, mas que ao serem analisados muito explicam do comportamento humano de uma forma geral.
Com um brilhante trabalho ao nível geral de actores e um igualmente magnífico trabalho de fotografia da autoria de Christian Berger, este O Laço Branco foi um dos grandes filmes Europeus do último ano e sem dúvida um dos grandes êxitos cinematográficos do realizador que se ultrapassa com cada um dos trabalhos que realiza.
8 / 10
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