sábado, 16 de março de 2013

Les Bizarres (2013)

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Les Bizarres de Mauro Viegas e a sua mais recente curta-metragem que também editou e escreveu, levam-no a um território que ainda não é suficientemente explorado no cinema português mas que felizmente tem sido abordado sempre de uma forma positiva e bem esclarecedora para aqueles que arriscam o género.
Santiago (Raul Leal) é um jovem alternativo. Fora da dita corrente "normal", chega a uma nova escola onde forma um novo conjunto de amigos junto de Iris (Jessica Chagas) e Leo (Fábio Valente), também eles ditos "diferentes", longe de um passado que o marcou.
Quando estas mesmas amizades começam a incomodar os ditos "normais" e estereotipados adolescentes que povoam aquela pequena localidade, percebemos que os limites podem, uma vez mais, ser ultrapassados e a sua tranquila existência pode novamente ser perturbada ao ponto de serem atravessados limites que nunca haviam sido postos em causa.
As três interpretações principais defendidas por Leal, Chagas e Valente encontram uma harmonia entre si que, caso este filme se tratasse de uma longa-metragem, poderia ter encontrado novos rumos e um maior desenvolvimento ao ponto de percebermos um pouco mais de cada um deles, especialmente se considerarmos o pouco explorado lado protector de "Iris" para com "Leo" que, embora explicado, nunca temos dele uma confirmação absoluta, bem como o passado de "Santiago" que o levou a perder o seu melhor amigo e um novo lugar para estudar e viver.
O argumento, que como referi é também ele escrito por Mauro Viegas, encontra rapidamente um lugar muito próprio quando nos aproxima de uma realidade pela qual possivelmente todos passaram enquanto adolescentes. "Qual o meu lugar?" ou "qual o meu grupo?" foram, a certa altura, perguntas que todos fizeram. E aqui através do tema subjacente sobre a identidade e a inserção, e como consequência a aceitação individual e colectiva, esta história acaba por se tornar actual independentemente da época em que é revisitada.
Tecnicamente falando, se inicialmente achei que os constantes movimentos de câmara (invulgares no anteriores trabalhos deste jovem realizador) poderiam tornar-se num factor incomodativo, já bem perto do final encontrei uma explicação para os mesmos (fosse ou não intencional). Quando já bem perto do final ficamos consciencializados de quem (ou de que forma) nos foi narrada toda a aquela história, percebemos o porquê de termos um quase constante "sobrevoar" dos acontecimentos, das personagens e dos momentos que ocorreram e que aqui foram escolhidos para nos serem apresentados, como se nos quisesse aproximar daquilo que podemos considerar uma memória dos factos. É já bem perto deste final que percebemos que todos os momentos são entregues como se um relato dos acontecimentos se tratasse e, o seu desfecho, é apenas um culminar de todos eles. Uma consequente explosão de todo um passado que se tornou, a certa altura, difícil demais para ser suportado por alguém tão jovem que apenas pretendia encontrar o seu espaço e a forma como se poderia expressar livremente, sempre acompanhado de uma exímia banda-sonora que me faz lembrar outro filme grande que as salas viram estrear este ano Laurence Anyways de Xavier Dolan.
Depois de ver esta curta-metragem, e independentemente de alguns apontamentos menos positivos sobre o som que em algumas filmagens de interiores é um pouco imperceptível não afectando o sentido da história, só posso deixar as maiores palavras de incentivo a este jovem realizador que aos poucos com os trabalhos que tem apresentado se vai afirmando como original e bem centrado, deixando assim uma crescente curiosidade sobre qual será o seu próximo projecto e que, por isso, deveria existir não só apoiso governamental para estes novos e energentes talentos como também um apoio mais directo das escolas e dos meios locais que têm, como aqui constatamos, muitos talentos ainda por ser revelados.
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"Narração: Aprendemos a viver um jogo pouco justo onde só ganha aquele que nunca se atreveu a pisar a linha."
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8 / 10
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