domingo, 1 de janeiro de 2017

Busanhaeng (2016)

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Busanhaeng de Yeon Sang-ho é uma longa-metragem sul-coreana de terror e uma das mais recentes e bem sucedidas incursões no género zombie que ultimamente tão prolífero se tem apresentado.
Seok-woo (Gong Yoo) é um homem de negócios centrado na sua vida profissional negligenciando Soo-an (Kim Soo-an), a sua jovem filha. Depois de mais um aniversário em que não esteve presente, Seok-woo promete levá-la de Seul para Busan para ficar na companhia da mãe mas, no entanto, estranhos fenómenos de violência começam a afectar o país e cedo descobrem, dentro do comboio de alta velocidade em que viajam, que o mal os acompanha nessa viagem.
Numa luta de sobrevivência contra o tempo Seok-woo e todos os que o acompanham tentam chegar a Busan onde esperam sejam salvos de um perigo que espreita por todos os lados e não só vindo dos zombies que tomaram o controlo daquele comboio.
Apesar de se fazer anunciar desde os primeiros instantes o rumo pelo qual Busanhaeng vai entrar e persuadir o seu espectador a segui-lo, o argumento - também da autoria do realizador - cedo muda de rumo e apresenta o drama familiar de um homem apegado a uma vida profissional e que optou deliberadamente por esquecer os prazer de uma vida tida em família. Indiferente para com os conselhos da mãe, divorciado e distante da sua jovem filha, "Seok-woo" - a personagem interpretada por Gong Yoo - é aquela que denota a maior transformação reconhecendo naqueles que podem ser os instantes finais da sua vida, aquilo que tem verdadeira importância na mesma.
Se a dinâmica entre pai e filha é imediatamente percebida como inexistente e que toda aquela convivência não é mais do que uma obrigação pela qual os dois passam, é a dinâmica que ocorre "lá fora" aquela que começa a exigir maior atenção especialmente quando o "corredor" que é o comboio de alta velocidade em que se encontram se vê tomado de assalto pelos zombies sedentos de sangue e carne humana. Enclausurados dentro de carruagens de um comboio tendo apenas sobre segurança aquela conferida por portas de vidro entre as mesmas, os vários sobreviventes do primeiro ataque vêem-se reduzidos a pouco mais de duas dezenas quando sofrem um novo confronto numa estação tida como "segura" naquele que é um dos mais intensos e vibrantes segmentos deste filme que se faz anunciar muito cedo... afinal, quem iria confiar num terminal isolado e onde ninguém se encontra por perto para os receber?
Entre personalidades dispersas e outras vincadas que todas estas personagens fazem denotar, de perfeitos anónimos a únicos companheiros de uma improvável sobrevivência Busanhaeng distancia-se do "simples" filme de acção gore conseguindo entregar-lhe alguma verve de alerta humanitário sobre a desenfreada vontade do Homem em lucrar facilmente às custas de um planeta exasperado com o desgaste de que é alvo por parte do mesmo. Mais, Busanhaeng preza ainda pela já tradicional narrativa sobre a sobrevivência a que os seus protagonistas são expostos mas aqui sem esquecer que as próprias classes sociais ou até mesmo a diferença pela experiência determinam - em boa medida - as oportunidades que são conferidas àqueles que estiveram no centro de todo o mal. Por outras palavras - e sem revelar em demasia - muito interessante a forma como, nos instantes finais da viagem de comboio quando todos os sobreviventes se voltam a reunir, o medo se instala e a diferença entre o "nós" e o "eles" parece marcada e acentuada para decidir quem tem direito - ou até mesmo oportunidade - para sobreviver e que esta sobrevivência é apenas decidida pela não exposição aos demais mas sim por um isolamento (ou detenção?!) forçada fora do contacto com aqueles que foram menos expostos à "experiência zombie"... Que o Homem é um animal raro e cheio de pequenas grandes nuances já o sabíamos... mas, no entanto, quando parecem já não existir mais seres não infectados do que aqueles com quem se partilha o espaço imediato esperava-se (espera o espectador) que a solidariedade se cultivasse mais nas relações humanas e não o poder de uma qualquer classe dita "superior" que determina os destinos dos demais.
Com um ritmo sempre dinâmico apenas pausado pelos momentos de preparação para o próprio segmento - ou carruagem - Busanhaeng não esquece a dedicação entre sobreviventes lutadores que nos momentos de crise mais acentuada se dedicam e se entregam ao próximo como que a única - e eventualmente última - pessoa que poderão alguma vez conhecer, a novos comportamentos dos infectados que para lá de "simples" comedores de carne humana parecem agir de forma consciente e concertada denotando, ainda assim, as suas próprias vulnerabilidades mas uma certa passividade (quando distantes de sangue pulsante) que facilmente pode ser comparado aos nossos (e reais) tempos onde o sangue novo parece ser ameaçado por um conservadorismo e inactividade inerentes a uma comunidade habituada a ter tudo e nada questionar cedendo ao poder de um capital obscuro e anónimo que tudo tem e todos controla sem esquecer a mensagem política subliminar a pequenos e pontuais comentários das personagens mais velhas.
Para lá de uma caracterização fiel ao género - afinal, quando mais gore... melhor - e da reconstituição intensa e claustrofóbica do ambiente dentro daquele comboio com apenas dois caminhos por onde seguir, Busanhaeng prima pelos instantes em que o vírus se manifesta e, em particular, pelos enérgicos e vibrantes segmentos quer na estação abandonada onde um pelotão do exército espera os nossos sobreviventes bem como pelos instantes finais no último terminal onde todos os testes - de sobrevivência e de memória - são finalmente colocados.
Imaginativo, fresco, intenso, enérgico e uma das melhores adaptações deste género ao cinema, Busanhaeng é o filme zombie do momento - e desde Snowpiercer (2013), de Bong Joon-ho o filme capaz de transformar um simples comboio num antro de morte e injúria -, o qual espero que chegue às nossas salas muito rapidamente pois são duas garantidas horas de muita adrenalina e ainda alguns momentos dignos de serem "pensados".
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8 / 10
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