A Difícil Arte de Amar de Mike Nichols juntou dois dos mais intensos e expressivos actores que alguma vez passaram por Hollywood... Jack Nicholson e Meryl Streep que, sob um argumento da autoria de Nora Ephron que retrata a sua própria vida, dão eles corpo e muita alma a um problemático casal.
Rachel (Streep) trabalha como crítica gastronómica e durante um casamento ao qual assiste conhece Mark (Nicholson), também repórter, e por quem desenvolve uma atracção imediata.
Depois de um rápido conhecimento e casamento que gera grandes dúvidas por parte de Rachel, a sua vida em comum ganha uma rápida confirmação com a compra de uma casa que tem muito pouco daquilo que se apresenta como tal, mas a qual tentam recuperar com todo o esforço para lhe puderem chamar lar.
Meses e anos passam sem que ela esteja terminada, têm a primeira filha e após uma segunda gravidez Rachel descobre que o muitas vezes ausente Mark tem afinal um caso extra-matrimonial e que aparentemente dele não se consegue libertar mesmo depois de todas as promessas feitas.
Esta história que, como referi, é um relato da vida da argumentista Nora Ephron consegue não só ser fascinante pelo interessante relato que nos dá sobre as relações sentimentais e afectivas que ligam estas duas "personagens", mas também por ser um olhar cru e apaixonante dado por uma das suas intervenientes que, através de duas sempre magníficas interpretações de dois actores maiores, consegue transformar-se num relato com que tantos se poderão identificar.
Esta história, contada com uma pitada de ironia e tragédia, de amor e de dedicação mas sempre com uma pitada de comédia e muita simplicidade sem criar clichés oportunamente desnecessárias, consegue aos poucos conquistar-nos. Muito se deve, como é óbvio, aos dois actores presentes que são para todos (certamente) sedutores.
Se por um lado Jack Nicholson tem aqui a interpretação do "vilão" de serviço, não deixa também de ser verdade que facilmente nos apaixonamos pela sua personagem. Presente mas distante, irónico quanto baste mas sempre, sempre, com aquele sorriso de quem sabe que nos tem presos pela mão, Nicholson assume-se como o protagonista meio ausente. Todo o drama essencial passa pela sua traição, ou traições, e é nele que "Rachel" pensa a todo o instante. É por ele que ela abandona os seus receios sobre a "instituição" casamento, e a ele que dedica toda uma vida, um lar em construção e, principalmente uma família. É por ele que abdica, de certa forma, de toda a sua liberdade e vida profissional, e também por ele que percebe que uma boa parte das suas acções e escolhas foi, resumidamente, em vão.
E sobre Meryl Streep, seja neste ou em qualquer outro filme, é quase escusado dizer o quanto se entrega e o quão torna suas, bem como de todos nós, as personagens a quem dá corpo e alma. A sua "Rachel" é um pouco de todas aquelas pessoas a quem dedicou uma vida esquecendo, em tantos momentos, aquilo que é essencialmente mais importante... o seu "eu". Através da sua expressão e expressividade percebemos que não é algo do qual se arrepende, antes pelo contrário, são estas experiências que a tornaram viva e contribuiram para o seu crescimento a dada altura, mas não deixa também de conter um pouco de angústia ao perceber que toda uma dedicação a uma pessoa não teve, para esta, o mesmo significado que teve para si. Pior ainda quando constata que durante todos aqueles anos esqueceu talvez o mais importante. Esqueceu-se de si. Tratou de uma casa e deu uma família a um homem que, na prática, não a quis e abdicou da sua vida profissional que tanto a completava para poder dedicar-se a quem não a apreciou. O seu vazio foi, por momentos, sentido e Streep consegue-nos fazer entender todos esses pequenos momentos com uma intensidade quase silenciosa como só ela nos sabe fazer chegar, principalmente se pensarmos que esta é a história de outra pessoa e que tão próxima era da própria actriz.
Poderá não ser um dos filmes mais conhecidos destes actores, ou tão pouco o melhor dos filmes sobre esta temática em concreto mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser um filme entusiasmante pela capacidade que tem de nos mostrar os mais diversos momentos da vida de uma mulher que se apercebe que o mais importante foi, em tempos, esquecido mas que está disposta a afirmar-se como aquilo que sempre foi... um indivíduo digno de respeito, principalmente do seu próprio respeito.
Verdade é que aos poucos enquanto o vemos sentimo-nos cada vez mais presos à sua história e personagens com as quais iniciamos uma simpática relação de proximidade, o que o torna num dos filmes que devemos, obrigatoriamente, ver.
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8 / 10
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