sexta-feira, 8 de abril de 2016

God's Not Dead (2014)

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Deus Não Está Morto de Harold Cronk (EUA) é a mais que esperada mas sim óbvia longa-metragem vinda do outro lado do Atlântico onde as eternas questões religiosas sobre a existência ou não de um "Deus" são colocadas na ordem do dia.
Josh (shane Harper) é um jovem estudante universitária que inicia a sua carreira académica nas aulas de filosofia do Prof. Radisson (Kevin Sorbo). Para lá de qualquer matéria académica, Raddison exige que todos os seus alunos assinem uma única declaração onde afirmem que "Deus Está Morto". Num momento em que não só o seu futuro académico como profissional são colocados em causa, toda a vida exterior de Josh é abalada quando tudo ao seu redor parece querer pressioná-lo a admitir aquilo que as suas convicções religiosas não lho permitem.
Hunter Dennis, Chuck Konzelman e Cary Solomon assim o argumento de God's Not Dead centrando a dinâmica da história no conflito moral no qual "Josh" é involuntariamente colocado mas, no entanto, não esquecendo todo um conjunto de tramas secundárias que, para o espectador, parecem funcionar como fundamentos para a sua forçada crença de que Deus... realmente existe. Desde um missionário que é sistematicamente impedido de sair da cidade, passando pelos convicções religiosas fundamentalistas do pai de Ayisha sem esquecer o cínico empresário Mark que age de forma cruel e indiferente a uma mãe mentalmente incapaz e para uma namorada que enfrenta a maior provação da sua vida, toda esta longa-metragem se centra numa tentativa de consciencialização - para não dizer evangelização - do espectador para uma forçada crença de que a intervenção divina é uma constante diária na existência do espectador que consciente ou não dos pequenos actos de bondade dessa mesma entidade, existe no planeta para honrar a dádiva da vida... por muito difíceis que sejam os dias, estes são para ser vividos no seu pleno e em constantes "graças" com um "Deus Cristão" - represente lá isso o que representar do outro lado do Atlântico -, benévolo, caridoso e omnipresente que, no entanto, não só não representa a condição humana no seu todo como é, para estes argumentistas e realizador, uma clara e muito tendenciosa obra de propaganda religiosa que em diversos momentos toca muito perto o fanatismo.
Esqueçamos, por momentos, a discussão académica e o combate de crenças aqui exercido entre aluno e professor - mesmo que isso nos remeta para o essencial de toda esta longa-metragem - mas, na realidade é o que está por detrás de toda a demais dinâmica desta longa-metragem que, na realidade, acaba por preocupar o espectador mais atento. Aquilo que encontramos em God's Not Dead não é necessariamente a discussão sobre a existência ou não de um "Deus" que tudo comanda mas sim a franca e sentida necessidade dos criadores desta longa-metragem de revelar o seu ponto de vista sobre a existência inequívoca de uma entidade que pode, por qualquer outra pessoa, ser negada. Não interessa o que todos os demais pensam... interessa sim que esta existência não pode ser contrariada.
Na sua essência, God's Not Dead é um manifesto da mais elementar e primária propaganda religiosa... inequívoca é sim a clara utilização do meio cinematográfico - com toda a sua óbvia máquina enquanto indústria - para propagandear um ponto de vista subjectivo, não factual e excessivamente emocional com o recurso a figuras desse "meio" norte-americano "cristão", claramente distante daquilo que é de facto a Cristandade mas que, no referido país, movimenta toda uma máquina ultra-conservadora e muito pouco tolerante ao mesmo tempo que lança toda uma rede de apoio a figuras que ali propagam os ditos "ideais" de "Deus". Muitas aspas... mas extremamente necessárias para dissecar esta "obra cinematográfica".
Em tempos fora utilizado o cinema para propagandear ideais de liberdade, por exemplo, os momentos captados pela obra de Frank Capra durante a Segunda Guerra Mundial... já que a máquina nazi tinha utilizado o mesmo método para espalhar a sua "ordem", também o dito Ocidente a utilizou para captar a essência de uma liberdade centrada no respeito pelas liberdades individuais. Aqui, God's Not Dead utiliza o cinema como forma de disseminar uma certa "ordem" religiosa que se afirma tolerante mas que mais não é do que uma forma de castração ideológica - de parte a parte - colocando, no entanto, os valores ditos "correctos" do lado daqueles que abraçam "Deus" - afinal, todos são felizes no final quando o aceitam -, deixando o rumo da perdição para os demais que não o aceitam como a única e verdadeira "ordem moral".
A não tão ligeira forma como God's Not Dead (não) se assume como um primária obra de propaganda terá de ser aceite pelo espectador... se estes criadores não a assumirem como tal permanecerá quem a observar com o seu critério de avaliação. No entanto, todos os elementos que aqui parecem criar uma certa moralidade e respeito "for the Lord", assumem-se como uma elite iluminada, presente nos momentos de adoração e tementes a um conservadorismo pseudo-religioso como se "Deus" fosse amor... mas apenas para aqueles que o respeitam pois, para todas as demais vis personagens, nesse jogo da vida, que nada temem, em nada crêem e que estão sujeitos a um pós-vida de tormentas, apenas está reservado um cantinho nesse "Inferno" que desconhecem... Temer ao Senhor... SEMPRE!
Intelectualmente pobre, cinematograficamente elementar e nula enquanto uma obra capaz de contar uma história pela qual o espectador - não fanático - se apaixone ou deixe levar, God's Not Dead é apenas o reflexo ultra-conservador de alguém que quer evangelizar não pela dita "palavra do Senhor" mas sim por um mecanismo que pode, a curto prazo, granjear uma satisfação económica que eficazmente pode ser trazida pelo cinema. Cinema propriamente dito... não o encontramos por aqui! Nem sob a forma de argumento, nem pela imparcialidade nem tão pouco pelas interpretações que quer pelo fanatismo quer pelo cheque aqui vieram parar.
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