Que é Feito dos Dias na Cave de Rafael Almeida é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das finalistas da última edição do Prémio Sophia Estudante atribuídos pela Academia Portuguesa de Cinema que nos retrata a tentativa de fuga de Marco (João Sério) do hospital psiquiátrico em que se encontra percorrendo um sem fim de corredores labirínticos que parecem prendê-lo cada vez mais àquele espaço.
Numa fuga constante pela qual tem de ultrapassar os evidentes obsctáculos que lhe são colocados, no final conseguirá Marco fugir de uma prisão que não é apenas construída por quatro paredes?
Com um argumento da autoria de Tiago Primitivo, Que é Feito dos Dias na Cave cedo apresenta uma abordagem fresca e interessante ao transportar o próprio espectador nesta aventura. Num ritmo de constante movimento, "Marco" está, desde muito cedo, acompanhado pelo espectador que através da presença de um câmara - técnico - como uma das personagens deste enredo, possibilita dessa forma a sua imersão na própria história estando, passo a passo, a efectuar a mesma fuga que a personagem principal tenta encetar.
Se a primeira prisão de "Marco" se deve principalmente pelo espaço em que se encontra - um hospital psiquiátrico repleto de corredores que por momentos parecem irem dar a todo e a nenhum local - que o aprisiona da sua vontade de liberdade, é também de registar que ele vive dentro de outra prisão que é aquela do foro psicológico e psiquiátrico na medida em que é uma vítima da sua própria mente agora ilusoriamente libertada pela sua recusa em tomar medicação. "Marco" tem toda uma nova - para o espectador mas não para ele - perspectiva sobre os limites, e sua falta, de uma mente capaz de tudo para alcançar um objectivo - a liberdade - esquecendo que, ao mesmo tempo, esta não passa de uma parca ilusão da (sua) realidade.
Corredor que precede um outro corredor, portas que se abrem para dar lugar a outras tantas portas, Que é Feito dos Dias na Cave apresenta ainda os meandros do seu próprio labirinto através de uma misteriosa figura que acompanha "Marco", cada vez mais à beira do seu próprio limite, e que parece por diversas ocasiões entregar-lhe directivas que o possam encaminhar para uma imaginada última porta daquele hospital e que por momentos obriga o espectador a questionar se aquele hospital não será mais nocivo do que benéfico para aqueles que o ocupam ao transformar médicos em carrascos e seguranças em carcereiros que precisam - para "Marco" - de ser enganados e, se necessário, eliminados.
Com as interpretações de João Sério que entrega uma louca genialidade ao seu personagem conferindo-lhe momentos de uma estranha e ilusória lucidez e um Salvador Nery como o interessante e enigmático "Paulo" - conquistando assim mais uma personagem marcante no seu curriculum - Que é Feito dos Dias na Cave dá continuidade a Demência - o anterior filme de Rafael Almeida - explorando uma vez mais os meandros do foro psicológico, a perda da lucidez e da realidade e a entrada num perverso mundo novo onde a coerência e o raciocínio parecem ter há muito abandonado estes corpos que se apresentam perdidos dentro de si próprios.
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