segunda-feira, 18 de abril de 2016

Tracks (2005)

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Tracks - A Condenação de Peter Wade é uma longa-metragem norte-americana que conta a história verídica de Peter Madigan (Chris Gunn), um adolescente de New Jersey que no início da década de 80 do século passado cometeu inconscientemente, na companhia de um grupo de amigos, um acto que lhe iria mudar radicalmente a vida.
Depois de horas perdidas junto à linha de comboio, Peter e os amigos mudaram a orientação do carril provocando, desta forma, um acidente que resultaria numa morte. No julgamento histórico que se sucedera, um grupo de adolescentes foi, pela primeira vez, julgado e condenado enquanto adultos tendo Peter encontrando posteriormente enquanto na prisão um novo rumo para a sua vida.
Facilmente confundido com um telefilme, Tracks é o típico filme que na sua narrativa tenta em muito pouco tempo estar presente em diversos momentos e locais acabando por perder-se em contos instantâneos e pouco desenvolvidos. Inicialmente o espectador é apresentado a um jovem "Peter" que como tantos outros adolescentes sem qualquer plano de vida ou ideia do que irá fazer no dia seguinte, apenas encontrar alguma razão de existir naqueles não tão breves instantes que partilha com os seus amigos a falar de tudo e nada.
De festa em festa e de encontros casuais sucessivos estamos nos instantes seguintes já perante uma história que acaba em morte e num não tão longo processo judicial que marcará a sua vida e daqui para uma vida de prisão onde "Peter" enfrenta os problemas habituais de uma vida enclausurada onde a esperança e as perspectivas de vida passam de poucas a nenhumas. No entanto, e depois de bater no fundo e finalmente encontrar um rumo graças ao silencioso apoio de "Brian Clark" (Ice-T), um guarda prisional que vê nele o potencial que o próprio desconhece, "Peter" encara a vida - a sua nova vida - tal como ela deve ser encarada... um livro em branco com perspectivas não grandiosas mas realistas.
Com um conjunto de personagens secundárias que se amontoam nesta história e que dão lugar a um sem fim de momentos que poderiam ser explorados mas que parecem querer ficar propositadamente "por ali", Tracks parece não encontrar o seu próprio rumo para lá do habitual conjunto de lugares comuns onde as vítimas não só não recolhem empatia por parte do espectador como também este as começa a considerar francamente aborrecidas e irritantes. Se considerarmos que estamos perante uma história verdadeira que bem poderia acontecer "ali ao lado"... então o espectador acaba por se perguntar se esta história cumpriu o seu fundamento principal... alerta de facto para as consequências de actos inconsequentes ou, por sua vez, mais não é do que um relato enfadonho de um acontecimento trágico que mudou radicalmente as vidas de um grupo de pessoas?
Os próprios protagonistas - Chris Gunn e Ice-T - parecem radicalmente colados a um certo lugar comum daquilo que representam... Por um lado temos um jovem "Peter" (Gunn) que enquanto branco numa sociedade privilegiada deitou tudo a perder por não pensar naquilo que faz e no que pode perder... Do outro lado da barricada temos "Brian" (Ice-T), o afro-americano que não se deixou levar pelo lado oposto da lei entrando directamente nela e podendo desta forma ajudar - de forma nem sempre discreta - aqueles que dele precisam no local onde tudo já fora perdido. Um teve tudo e perdeu... o outro nada tinha e tudo conquistou. Ainda que representações de pessoas reais, os mesmos acabam por cair num buraco tipificado de ideias pré-fabricadas e que parecem momentaneamente querer penalizar aquilo que um representam e elevar aquilo em que o outro se tornou. Naquilo que deveria ser a representação de uma história real, o espectador depara-se com um conto ficcionado e que pouca justiça faz aos acontecimentos... de quem morreu, de quem não pensou, de quem tudo conquistou e daqueles que primeiro tiveram de perder para depois pensarem no quão privilegiados realmente são.
Tracks, que como referi parece não ter encontrado o seu rumo, (sobre)vive de clichés e lugares comuns, de banalidades e de colagens fiéis de tantos outros filmes que talvez tenham prestado mais homenagem àqueles que representam, às suas histórias e aos seus dramas pessoais... Afinal, pode ser importante perceber os infernos aos quais cada um desceu... mas se é importante percebê-los, é ainda mais compreender como tão fácil é lá chegar e o quão difícil se pode tornar deles sair sem cair nestas histórias (não) banais e que aqui são representadas com muita ligeireza.
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3 / 10
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