Demonstración Pública de Afecto de Roberto Pérez Toledo é uma curta-metragem espanhola de ficção que nos apresenta um casal idoso (Edna Fontana e Txema Blasco) numa grande superfície onde, de repente, Olga (Fontana) observa dois jovens enquanto tiram uma foto e se beijam de forma apaixonada, questionando-se - e ao marido - porque nunca fizeram o mesmo em público.
Não é surpresa para ninguém que por aqui já escrevi sobre muitos das obras cinematográficas de um realizador que considero ser dos grandes nomes de um novo cinema espanhol. Já afasto a questão de ser uma promessa pois a continuidade do seu trabalho revela que temos um realizador e argumentista que se concentra não só num aspecto romântico de uma relação mas também na forte necessidade de fazer chegar ao espectador uma mensagem sempre actual.
Pérez Toledo, prolífero em histórias centradas em pares românticos entre dois jovens adultos bem como em histórias cuja temática LGBT se marca de forma vincada, cria com Demonstración Pública de Afecto uma história romântica onde os protagonistas são tantas vezes esquecidos como o são quando a idade já é mais avançada. Forçando a sua entrada de forma segura pelo campo das relações entre idosos, Pérez Toledo levanta aqui uma quase eterna questão... Como vive a população mais sénior a sua afectividade, o romance e, porque não, a sua própria sexualidade?
Fruto de uma educação diferente daquela que grande parte de nós manifestou e teve, de regimes políticos e de um conservadorismo que - felizmente - muitos de nós não conheceu, como viveram "os nossos avós" a sua intimidade, a sua afectividade e mesmo o seu amor? Pérez Toledo responde a esta questão com mestria ao revelar que essa necessidade de afectividade e carinho existe, que nem sempre foi manifestada e que mais tarde ou mais cedo um dos dois intervenientes nestas relações "mais vividas" sentirá a vontade de os reclamar.
De forma tímida, a intensa Edna Fontana exibe através do seu olhar e de pequenos trejeitos nas suas expressões aquele vazio sentido de uma vida em comum, com respeito, cumplicidade e entrega mas que falhou na expressão do toque, dos afectos "extra o necessário" e de um não tão simples "amo-te" que pode preencher todo um coração. No entanto, é a ainda mais expressiva afectividade de Txema Blasco que de um homem relativamente frio se transforma num coração aberto que tece a mais linda declaração de amor àquela que, finalmente, assume ser o amor de toda a sua vida.
Para lá de um conto sobre o amor e ainda mais forte do que um qualquer cartão de São Valentim, Demonstración Pública de Afecto é um hino a um amor celebrado mas talvez não confirmado e uma segura aposta na abertura e desmistificação de um tabu sobre o afecto e a afectividade entre pessoas com uma idade mais avançada que Pérez Toledo não só escreveu mas ao qual também deu uma alma imensa com duas interpretações soberbas de Fontana e Blasco.
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