sexta-feira, 22 de julho de 2016

Sangra Tango (2014)

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Sangra Tango de Luizo Vega é uma curta-metragem experimental francesa com as interpretações do próprio realizador juntamente com Staiv Gentis.
Com duas fontes inspiradoras, Sangra Tango oscila entre os primórdios do tango na qual a dança tradicional de Buenos Aires era interpretada por dois homens e a representação bíblica do conto dos irmãos Abel e Caim - onde este último mata o primeiro cometendo portanto o primeiro homicídio da História (sob uma perspectiva biblíca-religiosa).
A dança, tal como uma luta, é um jogo de dominação onde dominador e dominado exercem uma qualquer forma de poder. Quem comanda a dança? Quem ganha a luta? Num jogo que é assumidamente cúmplice e onde é necessário um elevado nível de confiança - afinal, ninguém as executa correctamente se não existir um grau de entrega no parceiro -, o espectador assiste a uma sucessão de momentos que, intercalados entre si, denotam uma clara coreografia de ritmo, sedução, afectividade e masculinidade inerentes a uma dominação intuitiva que precedem um clímax extremo e claramente mais violento.
Quase de forma inconsciente Sangra Tango é como que a já referida passagem bíblica. Dois homens, irmãos, cúmplices e criados num mesmo espaço cedem à tentação e à vontade de agradar. Um inveja o outro pela sua natural aptidão por uma liderança por exemplo e pela proximidade e, como tal, impõe-se através de uma violência desconhecida e ocultada que o fará vingar a sua vontade no final. Num jogo de movimentos e de uma sensualidade que os aproxima do ritmo perfeito, os dois tentam e testam os limites alheios e as barreiras imaginárias que se auto-impõem.
Alheados de um espaço que lhes é exterior, estes "Caim" e "Abel" de tempos relativamente modernos impõem a sua relação de dominador e dominado numa coreografia de tango onde um existe para ser o sacrifício do outro. Um existe para brilhar enquanto o outro existe para ser sacrificado para a sua glória. Força, expressividade, masculinidade e sedução mesclam-se e confundem-se como um jogo de poder e dominação que só termina com a rendição de um deles.
Sem um argumento ou narrativa que possibilitem o espectador ir mais além pelas suas próprias deduções, Sangra Tango consegue ter uma vida graças à sinopse facultada nos primeiros instantes onde o espectador inicia - de seguida - a sua viagem e a sua leitura das imagens a que assiste retirando das mesmas alguma tensão homo-erótica implícita não só na dança como na luta coreografada que, a certa altura, se diluem fazendo ambas parte de um mesmo momento.
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7 / 10
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