Man Under de Paul Stone é um documentário em formato de curta-metragem norte-americano narrado por Jermaine, um condutor de metro na cidade de Nova York que viveu acontecimentos traumáticos que o marcaram para o futuro.
Desde o seu sonho de criança em tornar-se maquinista até à actualidade, Jermaine fala-nos sobre como a sua vida ficou afectada depois do primeiro acidente mortal em que se viu envolvido. Como o sonho desvanece e os receios deram lugar a alegrias antes vividas, Jermaine e este documentário apresentam toda uma traumática vivência não só deste homem como de toda uma realidade escondida dos olhares daqueles que vivem "lá em cima"... longe dos carris mais ou menos escondidos do metro da cidade que nunca dorme.
Logo os instantes iniciais de Man Under revelam-se como uma estranha bizarria para a qual o espectador parece não estar preparado. O recurso às imagens das câmaras das estações de metro que revelam algumas tentativas de suicídio - algumas, acrescente-se, com um grafismo pouco comum - mostram que para lá do trauma de Jermaine - aqui o rosto de uma depressão colectiva não documentada - existe toda uma comunidade que cedeu a uma desconhecida pressão.
"Suicide doesn't take away the pain. It gives it to someone else" é a frase de abertura de Man Under - 12-9 no código para identificar uma tentativa de suicídio - e todo o documentário não só é uma reflexão sobre a dor psicológica de Jermaine como também abre a porta a conclusões - por parte do espectador - sobre o estado de espírito de uma cidade que desde 2001 vive toda uma nova e diferente realidade (traumática com toda a certeza) como consequência dos atentados terrorista do 11 de Setembro. Ainda que com uma breve mas insuspeita referência ao ano, é de verificar que os estudos efectuados desde então revelam que o suicídio é a maior causa de morte na cidade tendo ultrapassado os homicídios numa escala de 3 para 1.
De uma última necessidade de contacto humano cruzando os olhares de vítima como o inesperado condutor do veículo mortal e a vontade quase escapatória de uma vida que não os deixa viver em tranquilidade, os fantasmas destas pessoas parecem co-habitar neste documentário que para lá dos factos - necessário num registo do género mas ainda assim frios pois esquecem as histórias por detrás dos números - apresenta uma invulgar tensão e um desassossego latente nos seus relatos. Da necessidade de avaliar o stress pós-traumático ao assombro e desconforto provocado por algo que antes o deixara feliz, Jermaine é um rosto marcado por uma dor que não consegue ultrapassar e um sentimento de uma culpa que não consegue controlar, dando a Man Under uma inesperada (des)humanidade que transgride violentamente já não existente tranquilidade de um espectador que se deixa, involuntariamente, absorver por uma mensagem e um conjunto de imagens francamente perturbadoras.
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7 / 10
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