quinta-feira, 3 de maio de 2018

Madre (2017)

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Madre de Rodrigo Sorogoyen (Espanha) é uma das curtas-metragens em competição na secção Nacional da nona edição do Piélagos en Corto - Festival Internacional de Cine de Piélagos a decorrer na Cantábria, em Espanha até ao próximo dia 5 de Maio assumindo-se como um trabalho inovador e "incompleto" na medida em que abre a porta a toda uma nova dinâmica que se estende para lá deste trabalho aqui "finalizado".
Uma mãe solteiro (Marta Nieto) recebe uma inesperada chamada de Iván, o seu filho de seis anos (Álvaro Balas) de férias com o pai no País Basco francês. Aquilo que parece um normal telefonema familiar rapidamente se transforma no maior pesadelo desta mulher quando o seu filho revela que o pai não se encontra por perto e que há algum tempo que não sabe dele.
Sorogoyen, que também assina o argumento, entrega uma história que lentamente se desenvolve para aquilo que qualquer um poderia considerar um pesadelo moderno. De início temos uma mulher, interpretada por uma fulgurante Marta Nieto, que discute a sua situação sentimental (ou falta dela) com a própria mãe. Conversas de mulheres, poderiam alguns dizer, mas aquilo que o espectador retém desta conversa é a incapacidade da personagem de Nieto em se entregar emocionalmente após uma relação que, compreendemos, a ter marcado de forma determinante. Dito isto, espera-a uma nova experiência que a transforma numa mulher involuntariamente incapaz de ser aquilo que ainda mantém alguma estrutura na sua vida... a maternidade. É quando o seu jovem filho lhe revela o distanciamento do pai de quem desconhece o paradeiro que todo um drama emocional se revela pela incapacidade, graças à distância, de resolver aquilo que a cada segundo parece tornar-se um cataclismo prestes a acontecer. No final, tal como no início temos a imagem do local onde tudo aconteceu sem que nenhum de nós o tenha conseguido ver... a praia. A praia onde o jovem "Iván" se encontrava e onde, potencialmente, desapareceu ser deixar rasto. A mesma praia em que a sua mãe conseguiu escutar a voz de um homem que se aproximava mas que nunca se conseguiu - ou quis - identificar. Eventualmente o único que sabe o que acontecera ao seu filho... talvez até o único que saiba até o que aconteceu a um "pai" desaparecido.
Filmado quase numa sequência única, Madre é eventualmente um filme curto onde tudo aquilo que acontece, sem esquecer a própria dramatização dos eventos, se deve primeiro àquilo que nos chega através do outro lado do telefonema de "Iván" mas sobretudo através daquilo que os actos desesperados de uma mãe incapaz de cuidar da segurança do seu filho fazem chegar a um espectador que lentamente acolhe aquele desespero como um dos seus próprios sentimentos ou sensações.
Logo no início deste comentário revelei que esta curta-metragem era um filme "incompleto". Incompleto não pela ausência de um qualquer elemento que o transforme num filme menor, bem pelo contrário pois, aqui o que recebemos é todo um conjunto de pequenos elementos que o poderiam transformar primeiro num drama entre mãe e filha, depois na compreensão que poderíamos estar perante uma história sobre uma mulher incapaz de voltar a amar para, de seguida, percebermos que o drama aqui está na incapacidade de uma mulher e mãe voltar a encontrar o seu filho que se encontra sózinho e perdido numa qualquer praia distante e à qual ela não pode chegar com a brevidade que seria possível. Incompleto sim pois a sua breve duração e as "portas abertas" que deixa paa a imaginação são por demais avassaladoras que esta curta-metragem não prepara o espectador para essa mesma brevidade. Ainda que todas as respostas fiquem por dar mesmo com toda a qualidade narrativa e técnica que o filme transmite, existe a necessidade de saber mais, muito mais, sobre o devir desta história que se encerra antes sequer de se ter iniciado. Mais, Madre é sobre essa impotência quando, na realidade, existe ainda a percepção de que o filho se encontra na presença de alguém que não só ela não conhece como se vê incapaz de (re)conhecer a identidade do mesmo. A história, até aqui dramatizada sobre diversas perspectivas, assume então a dimensão de um relato de procura por um filho que, num breve instante, poderá encontrar-se do outro lado do mundo incapaz de chegar a uma mãe que na realidade não sabe onde o pode procurar.
Tenso e dinâmico, assustador e capaz de se assemelhar a tantas outras histórias das quais apenas temos conhecimento quando passam num qualquer noticiário, Madre revela todo um conjunto de terrores modernos que se assumem à medida que o tempo passa... primeiro o medo da solidão, depois da perda e finalmente da compreendida condição de uma mulher enquanto mãe que, incapaz de ter o seu filho nos braços parte à sua procura rumo a um desconhecido físico e temporal à procura de respostas  que não sabe se irá encontrar naquela que é uma segura e emotiva interpretação de Marta Nieto em cujo rosto se fixam os olhos do espectador.
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9 / 10
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