sábado, 6 de abril de 2013

A Dama do Estácio (2012)

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A Dama do Estácio de Eduardo Ades foi uma das curtas-metragens da secção competitiva desta quarta edição do FESTin que mais desejei ver. O motivo era "simples"... a presença de uma sempre magnífica Fernanda Montenegro.
Zulmira (Montenegro) é uma mulher de certa idade que vive no Bairro do Estácio no Rio de Janeiro e é prostituta de profissão, dorme de dia e sai pelo nascer da noite para mais uma tentativa de ganhar a vida.
Um dia Zulmira acorda obcecada com a ideia de preparar o seu funeral, para o qual tem urgentemente de comprar um caixão. Não importa o preço... apenas lhe interessa um que seja bom e de qual goste.
Além de um tributo a A Falecida de Leon Hirszman que representou a primeira longa-metragem interpretada por Fernanda Montenegro, este filme com argumento de Eduardo Ades e Matheus Ramalho é também uma sentida homenagem a "Zulmira" uma mulher que, como tantas outras, tenta (sobre)viver num mundo que por muito que tente parece engolir um pouco mais da sua esperança num dia melhor.
A interpretação de Fernanda Montenegro não poderia ser melhor. Profundamente convincente na forma como encara o seu "trabalho", e sentida ao ponto de nos fazer ver que a sua esperança se perdeu algures numa noite sem rumo, Montenegro faz-nos sentir a sua dor e a sua mágoa sem que com isso precise de mostrar uma lágrima ou um momento em que esteja mais melancólica. A sua tristeza transmite-se pela indiferença que o seu rosto exprime face aos outros que com ela convivem de uma ou outra forma, para com os quais não pretende partilhar nenhuma palavra além daqueles que julgue indispensáveis.
O seu momento à chuva, como que esta viesse despertar essa última réstia de esperança que parecia para sempre perdida tal o seu poder purificador, constitui um dos momentos mais sentidos e emotivos dados numa tão simples mas redentora cena, definitivamente clarificando o poder da expressão facial como um dos mais importantes veículos transmissores de uma mensagem, por vezes bem superior a mil palavras.
A acompanhar Fernanda Montenegro temos Nelson Xavier e Joel Barcellos, como os donos da funerária que, também eles, já haviam participado na longa-metragem A Falecida de 1965, bem como Rafael Souza-Ribeiro como "Suelly", a simpática e sempre disponível colega de casa transsexual de "Zulmira".
Com uma fotografia fechada e pesada da autoria de José Eduardo Limongi reflexo do desespero da sua personagem principal e uma simples e melancólica música original de João Rabello, esta A Dama do Estácio assume-se como um dos trabalhos mais bem conseguidos da competição como também uma segura e firme obra do realizador Eduardo Ades que espero já esteja a realizar o seu próximo trabalho.
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8 / 10
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1 comentário:

  1. Socorro!! Que musica é essa que toca na cena da chuva do video???

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