terça-feira, 16 de abril de 2013

Hell (2011)

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Brilhante de Tim Fehlbaum passou no último KINO - Mostra de Cinema de Expressão Alemã de Lisboa no início do ano no Cinema São Jorge, e o argumento original escrito pelo próprio Fehlbaum juntamente com Olivier Kahl e Thomas Wöbke apresenta-nos um mundo pós-apocalíptico.
Marie (Hannah Herzsprung) viaja de carro pela sua Alemanha natal com a sua irmã Leonie (Lisa Vican) e com Phillip (Lars Eidinger), através de um cenário desolador e queimado pelo Sol que fora outrora fonte de vida mas que foi a dada altura terrível para qualquer forma de vida na Terra tornando-se assim no seu maior inimigo. Muita da vida humana e animal desaparecera e a vegetação agora impossibilitada de crescer impede que os poucos sobreviventes consigam sobreviver condignamente, onde a intensidade da luz é mais uma fonte de morte do que de regeneração.
Na sua viagem rumo à montanha onde dizem existir água potável, o pequeno grupo depara-se com Tom (Stipe Erceg), mais um sobrevivente que se encontrava isolado numa estação de serviço e aquilo que começou como sendo uma relação tensa e até violenta, cedo se transforma numa estranha cumplicidade entre pessoas diferentes que procuram um abrigo e um novo local para poderem sobreviver.
Quando apanhados numa emboscada por um grupo de outros sobreviventes que pela força da sua própria sobrevivência se tornaram predadores daqueles que passam por aquele caminho, poderá este grupo confiar no seu novo companheiro de viagem ou será que estão todos condenados a serem as próximas vítimas de um mundo que se encontra aparentemente sem qualquer esperança?
A ambiguidade deste filme começa logo de imediato com o seu título em alemão Hell, que aqui ao contrário do que pensamos significa Brilhante referindo-se obviamente a todo o cenário diurno que nos é apresentado onde, pela força intensa do Sol nos é apresentado o já referido cenário desolador desprovido de vida, de vegetação e onde a civilização como a conheceramos fora já destruída pela força do astro-rei. No entanto, e graças ao argumento de Fehlbaum, Kahl e Wöbke, este "inferno" pode também facilmente referir-se não só a esse cenário desolador retirado de uma qualquer imaginação desconhecida desse espaço como também ao cenário humano intensamente perigoso que mostra o lado mais selvagem de um indivíduo quando numa situação extrema à qual precisa de sobreviver. Desde a violência física até ao lado mais desumano do Homem que recorre ao canibalismo e à violação como forma de propagar a própria "espécie", este filme tem um pouco de todos os ingredientes de filmes que já fizeram história como Mad Max ou A Estrada.
Mas não só de sobrevivência fala este filme. Por momentos, ainda que breves, temos o recordar de um passado não longínquo que mostrava a forma desinteressava com que se lidava com os recursos existentes, nomeadamente a água que é "agora" o bem mais requisitado e menos corrente, e principalmente a esperança normalmente perdida em momentos de grande tensão e provação mas que ganha aqui uma dimensão superior não só pela viagem que tem de ser percorrida por este conjunto de pessoas que em tempos a perderam quer devido ao desaparecimento dos seus entes queridos no caso das duas irmãs, da vida como a conheceram como se percebe ser o caso de "Phillip", ou devido ao isolamento e consequente desespero e necessidade de sobrevivência sentidos por "Tom". Todos encontram nesta viagem, ainda que muito brevemente e mesmo pelo meio do consequente desespero e irritabilidade mutuamente provocados, a última réstia de esperança num futuro melhor do que aquele com que têm vivido nos últimos tempos, e ainda que este aspecto não seja muito explorado neste filme é inegável que se encontra presente nas suas acções especialmente quando estas são colocadas em prova devido à estranha e perigosa família das montanhas.
O cenário pós-apocalíptico muito semelhante aos já referidos Mad Max e A Estrada é aqui exponenciado por um inovador e bem executado aspecto que é a força destruidora da luz do Sol que graças à fotografia de Markus Förderer é uma constante ao longo do filme tendo no entanto o seu auge logo nos instantes iniciais quando se percebe realmente em que mundo "vivem" estes nossos sobreviventes. A intensidade da luz é de facto tão poderosa que apenas temos referências ao espaço em que "nos" encontramos e o qual percebemos ser apenas uma vaga miragem de um passado mais ou menos longínquo.
Pouco habitual para um filme europeu, esta componente "fim do mundo" tem vindo a obter alguns significativos resultados na cinematografia do velho continente com títulos como este, O Tempo do Lobo ou Fim, e que assumem maiores contornos nos festivais de cinema da especialidade mas que aos poucos chegam também aos espectadores europeus e ao circuito comercial libertando-se dessas amarras. Felizmente para o nosso deleite pois são produções que apesar de não estarem associadas ao factor espectáculo de Hollywood conseguem, ainda assim, retirar positivos resultados pela rudeza e brutalidade humana face à sua própria sobrevivência do que propriamente por um conjunto de efeitos especiais megalómanos que nos fazem esquecer o principal... a sua história.
Não sendo uma obra-prima do género não deixa de ser um filme bem executado e com um ambiente característico, e esperado, em produções do género que vence pela sua atmosfera e dureza das imagens como também pelo sentimento de claustro recriado graças à insuficiência de espaços "seguros"... se por um lado o Sol está presente em metade do dia, não deixa de ser também verdade que na outra metade o perigo apresenta-se sob a forma humana.
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7 / 10
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