Até ao Fim de João Henriques é uma curta-metragem portuguesa que nos remete para um aparente mundo onde a população desapareceu misteriosamente e para o qual não deixou qualquer aparente justificação.
Ficam dois sobreviventes... um rapaz e uma rapariga que incrédulos com o silêncio humano à sua volta, resistem entre as edificações que continuam de pé, numa união feita pelo amor pela amizade e também pela companhia que agora, mais do que nunca, os irá cada vez mais aproximar.
A premissa deste filme, que é tendencialmente pós-apocalíptica, é interessante pois existe algo no fim da espécie e da Humanidade que misteriosamente a todos nós consegue seduzir. No entanto, nesta curta-metragem apesar de se encontrarem as bases, há algo que falha principalmente por não existir um argumento mais desenvolvido que explorasse certos elementos-chave para a coerência do mesmo. Não temos algo que justifique o desaparecimento das restantes pessoas, temos um acidente de avião que surge a meio da história mesmo quando supostamente já não existe população e mesmo para este não existe uma explicação.
A relação de amor/amizade que une as personagens interpretadas por Vítor Marques e Carina Carrilho poderia também ela ser um pouco mais explorada e entregar aos dois jovens actores diálogos não tão tipificados com o dito "normal" neste género de filmes. Isto tê-los-ia libertado de alguns clichés já pré-fabricados sobre "o que terá acontecido?", e deixando-os fluir rumo àquilo que realmente nos interessa "e agora o que será de nós?" dando assim mais ênfase à história de amor que os une e também aos próprios diálogos que saíriam mais coerentemente.
No entanto há dois interessantes aspectos técnicos que destaco. O primeiro é a fotografia que em tons maioritariamente opacos consegue captar e recriar aquilo que esperamos deste género de filme que é a ausência de cor e, por sua vez, a escassez de vida. Este factor só não atinge a sua potencialidade máxima devido a algum hand-camera que poderá (e deverá) ser melhor tratado em futuros trabalhos. Finalmente há que destacar a banda-sonora da curta-metragem, produzida por Diogo Jourdan, que sem criar uma sonoridade original consegue captar o essencial do momento em que aquelas duas personagens vivem e assim enquadrá-las no próprio tempo e espaço.
Para o meu gosto pessoal esperava pelo menos mais dez minutos de filme para poder trabalhar alguns dos aspectos que anteriormente mencionei pois só assim se consegue explorar o próprio universo pós-apocalíptico e dando também assim mais profundidado ao próprio ambiente que se pretende mas, no entanto, é agradável perceber que este jovem realizador consegue mostrar sinais de evolução comparativelmente ao último trabalho apresentado no final do ano passado, o que só revela que a aprendizagem e o conhecimento de algumas falhas foi interiorizado e corrigido.
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4 / 10
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