sábado, 1 de dezembro de 2012

Nada Fazi (2012)

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Nada Fazi (É Inevitável) de Filipa Reis e João Miller Guerra também presente na sessão competitiva nacional do Córtex em Sintra, surge como uma das mais refrescantes e agradáveis surpresas até à data bem como se torna num dos mais sérios candidatos ao prémio final.
Sob o pretexto de efectuarem um trabalho de investigação chamado Dez Anos de Reintegração Social no Casal da Boba, um grupo de estudantes desloca-se para o local para efectuar um conjunto de entrevistas que possam permitir um olhar sobre a vida das pessoas daquele bairro. No entanto por entre perguntas sobre a marginalidade e as oportunidades inerentes à vida daqueles que por lá habitam, dois jovens roubam a câmara dos estudantes passando, a partir daquele momento, de mão em mão por vários dos habitantes do bairro naquilo que resultaria num muito mais fascinante, emotivo e por vezes cómico relato das suas vidas.
Se inicialmente esta curta-metragem parece que vai dar lugar a um retrato típico daquele bairro sob uma perspectiva de quem está e vive fora dele, limitando-se assim a um conjunto de clichés sobre aquilo que por lá acontece, somos rapidamente surpreendidos por um assalto que tem como único objectivo fazer uns quantos €uros extra mas que acaba por nos deixar um legado bem mais importante, ou seja, um olhar in loco sobre as vidas de um conjunto de adolescentes que espelham o seu dia-a-dia.
Os dois realizadores que fazem transparecer um olhar afastado de uma qualquer crítica social, filmam brilhantemente o argumento de Miguel Nogueira que por entre alguns momentos mais emocionantes e bastante comédia quotidiana nos mostram um retrato diferente de uma banal existência num bairro despriviligiado e que vive nas franjas da sociedade. O objectivo alcançado (e ainda bem) é simples, consistindo maioritariamente na correcta ideia de que aquelas vidas poderiam ser as de qualquer um de nós e que a marginalidade tanto existe ali como noutro bairro noutra parte do país. As oportunidades podem ser menores para quem lá vive, é certo, pois os estigmas existem e persistem fechando logo à partida as portas a outras pessoas mas, no entanto, não deixa de ser verdade que as capacidades e qualidades de quem lá vive são tantas, ou tão poucas, como as de qualquer outra pessoa.
Os momentos cómicos atingem o seu auge (magnifico há que afirmá-lo) com o conjunto de quatro amigas que no quarto de uma delas dissertam sobre as suas vidas sentimentais em reflexões que não parecem ensaiadas ou estudadas mas que surgem sim do fruto das suas experiências pessoais. A química entre elas é forte, natural e descomprometida do olhar de uma câmara que devora todas as linhas dos seus diálogos. Se toda a curta-metragem é forte, este momento é pólvora pura.
Nunca é demais referir a intensa qualidade que os trabalhos dos jovens realizadores portugueses têm alcançado nos últimos tempos e com Nada Fazi temos "apenas" mais uma confirmação que ese potencial é forte e veio para ficar. E será igualmente justo afirmar que não só fico a aguardar pelos próximos trabalhos desta dupla como também de novos argumentos por parte de Miguel Nogueira que com este trabalho afirma, e deixa bem alta, a expectativa de novas e originais histórias para o nosso cinema.
Tal como o próprio título indica... é INEVITÁVEL ver este filme que se afirma sem qualquer pudor como um dos mais fortes, originais e destemidos filmes do festival (atenção aos prémios) e do ano.
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10 / 10
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