Cabeça de Boi de Michaël R. Roskam é um daqueles filmes que já aguardava há algum tempo que passasse numa da sala de cinema nacional e a que tive oportunidade de assistir graças a um pouco (muito pouco) divulgado festival de cinema de expressão flamenga que decorreu em Lisboa no passado mês de Agosto.
Este filme, nomeado para para o Oscar de Filme Estrangeiro na última cerimónia dos mais mediáticos prémios de cinema, conta-nos a história de Jacky Vanmarsenille (Matthias Schoenaerts), um jovem criador de gado na Bélgica que se vê envolvido numa rede mafiosa de produtores de animais que injecta várias drogas ilegais nos mesmos para um mais rápido crescimento e garantindo assim um lucro fácil.
No entanto, a morte de um polícia que investigava estes acontecimentos e o uso destas mesmas drogas não só nos animais como no próprio Vanmarsenille, irão despertar velhas memórias sobre o seu passado e revelar a incerteza do destino, a fragilidade das amizades e como trágicos acontecimentos da juventude podem marcar para sempre e de forma irreversível as vidas de todos aqueles que são agora estranhos entre si.
Este filme não só foi o grande sucesso de bilheteira do último ano na Bélgica como foi também o filme que lançou definitivamente o nome do seu actor principal, Matthias Schoenaerts, para o reconhecimento não só nacional como também internacional. O actor consegue não só ter uma interpretação forte de um homem determinado em encontrar o seu lugar no mundo, mas também frágil e emotiva quando nos é dado a conhecer o seu trágico passado que o marcaria de forma determinante para sempre, justificando assim a sua franca resistência em criar laços de união com qualquer outra pessoa que o rodeie, mesmo que com ele partilhe laços familiares. Schoenaerts não só é convincente e brilhante no seu retrato de um homem bruto, rude e com problemas de relacionamento com os demais, como também consegue depois de nos "mostrar" o seu passado, justificar esse comportamento e mostrar o lado sensível e disponível para ser amado mas que devido a esses acontecimentos dramáticos sempre se sentiu impedido de o concretizar. Se um filme tem força, Schoenaerts é a própria, e aqui de uma forma quase literal.
A sua força apenas é abalada em dois específicos momentos que se prendem-se essencialmente com a presença de duas pessoas do seu passado que são essencialmente aqueles que testemunharam aquela que é a sua maior fragilidade e que, para ele, o condicionaram naquilo que representa perante a sociedade...a sua masculinidade. O primeiro é Diederik (Jeroen Perceval), o seu melhor amigo de infância e o único que a testemunhar inloco tudo o que com ele se passou, também foi o primeiro a não o defender, fruto da sua idade e inocência então perdida. "Diederick" não era um jovem mau... era simplesmente uma criança assustada com actos que nunca pensous erem possíveis de concretizar com alguém. Tal como não cresceu para se tornar um adulto mau. Ele é apenas fruto dos acontecimentos que, também a ele, acabaram por dar um rumo diferente do que expectável e tenta, agora, salvaguardar o seu "ex"-amigo como não tinha sido anteriormente capaz.
Finalmente, o segundo e provavelmente o mais importante factor de instabilidade de Vanmarsenille prende-se com o ressurgimento de Lucia (Jeanne Dandoy) na sua vida. Não só pela família que ela representava como principalmente por ter sido em jovem, e agora em adulto, o seu motivo de paixão e desejo que não havia perdido. É aqui que Vanmarsenille se sente posto à prova, desafiado e principalmente intimidado por não poder responder àquilo que poderiam esperar dele. É agora que, mais do que nunca, toda a sua violência física se exalta e todos são aparentemente um factor de desafio à sua capacidade de auto-controlo que, como acabamos por esperar a dada altura, está prestes a ser ultrapassada e a explodir a qualquer momento.
Tecnicamente destaco a fotografia da autoria de Nicolas Karakatsanis que dá àquela paisagem de campo onde tantos actos de brutalidade tomaram lugar, uma calma e tranquilidade que parecem querer reflectir um qualquer paraíso que, não existindo, se deseja.
Um intenso e dramático filme, com um argumento também ele escrito por Roskam, que reflecte sobre como actos do passado por mais ou menos isolados que possam parecer, determinam profundamente toda a vida de um indivíduo.
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No entanto, a morte de um polícia que investigava estes acontecimentos e o uso destas mesmas drogas não só nos animais como no próprio Vanmarsenille, irão despertar velhas memórias sobre o seu passado e revelar a incerteza do destino, a fragilidade das amizades e como trágicos acontecimentos da juventude podem marcar para sempre e de forma irreversível as vidas de todos aqueles que são agora estranhos entre si.
Este filme não só foi o grande sucesso de bilheteira do último ano na Bélgica como foi também o filme que lançou definitivamente o nome do seu actor principal, Matthias Schoenaerts, para o reconhecimento não só nacional como também internacional. O actor consegue não só ter uma interpretação forte de um homem determinado em encontrar o seu lugar no mundo, mas também frágil e emotiva quando nos é dado a conhecer o seu trágico passado que o marcaria de forma determinante para sempre, justificando assim a sua franca resistência em criar laços de união com qualquer outra pessoa que o rodeie, mesmo que com ele partilhe laços familiares. Schoenaerts não só é convincente e brilhante no seu retrato de um homem bruto, rude e com problemas de relacionamento com os demais, como também consegue depois de nos "mostrar" o seu passado, justificar esse comportamento e mostrar o lado sensível e disponível para ser amado mas que devido a esses acontecimentos dramáticos sempre se sentiu impedido de o concretizar. Se um filme tem força, Schoenaerts é a própria, e aqui de uma forma quase literal.
A sua força apenas é abalada em dois específicos momentos que se prendem-se essencialmente com a presença de duas pessoas do seu passado que são essencialmente aqueles que testemunharam aquela que é a sua maior fragilidade e que, para ele, o condicionaram naquilo que representa perante a sociedade...a sua masculinidade. O primeiro é Diederik (Jeroen Perceval), o seu melhor amigo de infância e o único que a testemunhar inloco tudo o que com ele se passou, também foi o primeiro a não o defender, fruto da sua idade e inocência então perdida. "Diederick" não era um jovem mau... era simplesmente uma criança assustada com actos que nunca pensous erem possíveis de concretizar com alguém. Tal como não cresceu para se tornar um adulto mau. Ele é apenas fruto dos acontecimentos que, também a ele, acabaram por dar um rumo diferente do que expectável e tenta, agora, salvaguardar o seu "ex"-amigo como não tinha sido anteriormente capaz.
Finalmente, o segundo e provavelmente o mais importante factor de instabilidade de Vanmarsenille prende-se com o ressurgimento de Lucia (Jeanne Dandoy) na sua vida. Não só pela família que ela representava como principalmente por ter sido em jovem, e agora em adulto, o seu motivo de paixão e desejo que não havia perdido. É aqui que Vanmarsenille se sente posto à prova, desafiado e principalmente intimidado por não poder responder àquilo que poderiam esperar dele. É agora que, mais do que nunca, toda a sua violência física se exalta e todos são aparentemente um factor de desafio à sua capacidade de auto-controlo que, como acabamos por esperar a dada altura, está prestes a ser ultrapassada e a explodir a qualquer momento.
Tecnicamente destaco a fotografia da autoria de Nicolas Karakatsanis que dá àquela paisagem de campo onde tantos actos de brutalidade tomaram lugar, uma calma e tranquilidade que parecem querer reflectir um qualquer paraíso que, não existindo, se deseja.
Um intenso e dramático filme, com um argumento também ele escrito por Roskam, que reflecte sobre como actos do passado por mais ou menos isolados que possam parecer, determinam profundamente toda a vida de um indivíduo.
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9 / 10
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