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Os Vivos Também Choram de Basil da Cunha presente na secção competitiva nacional do Córtex em Sintra foi uma das curtas mais antecipadas por ter não só a presença de José Pedro Gomes na interpretação principal, mas também por já ter estado presente em Cannes, facto há altura muito anunciado.
Zé (José Pedro Gomes) já na casa dos cinquenta anos de idade e um alcoólico, trabalha no porto de Lisboa e nunca saiu do seu bairro social onde não só é alvo dos comentários jocosos de muitos dos habitantes como também vive uma existência desinteressante e sem qualquer tipo de conteúdo.
Ele sabe que se não fizer algo que dê um rumo completamente diferente à sua vida que jamais sairá daquele buraco onde nunca se imaginou e, como tal, tem as suas próprias economias que esconde a todo o custo da sua ciumenta e possessiva mulher. Zé tudo fará para mudar a sua vida... resta saber se aquilo que ele quer fazer não a mudará da forma que menos espera... Se a sua mulher lhe permitir...
Apesar de todas as personagens secundárias que povoam esta curta, é mais do que justo dizer que ela vive e respira tudo aquilo que José Pedro Gomes lhe entrega e que ele, e só ele, conseguem ser a alma e o coração da mesma, naquela que é uma boa e muito inspirada interpretação que aqui tem.
Habituados que estamos a ver José Pedro Gomes em interpretações marcadamente cómicas, e tantas vezes secundárias, é agradável constatar que aqui tudo gira em seu redor. As demais personagens, a história e argumento, os destinos e os objectivos de todos numa dança quase perfeita de todos os elementos. O próprio argumento, também ele da autoria de Basil de Cunha, obriga a que a câmara não o largue por nenhum instante sendo quase indispensável a sua presença no ecrã (e no fundo é).
As injustiças e a vida que leva, a constante presença da ideia de que a vida poderia ter sido outra e dos mundos "lá fora" que existem por conhecer dão à sua personagem, e ao filme em si, a sensação de que algo está mal e de que o "aqui" é pequeno e injusto demais para que ele lá se mantenha. Talvez por isso mesmo os segmentos finais (que obviamente não irei revelar), nos deixem a sensação de que para além de uma qualquer realidade mais ou menos privilegiada (muito menos), existe uma vontade e um desejo certo de que se quer e procura mais... que se procura aquilo que realmente se merece mas que, como lhe é habitual, ficará uma vez mais por concretizar.
No final deste filme resta apenas uma sensação assumidamente tragicómica de que por muito que se tente, o destino tem por vezes planos bem diferentes dos nossos, impossibilitando assim as nossas aspirações de concretizar e obter algo, sendo por isso mais "correcto" (ou pelo menos não tão doloroso), limitarmo-nos a viver o dia-a-dia sem desejos e vontades. Mas será isso viver?
Um filme que, se lhe retirássemos algum do misticismo que insiste em ter do início ao final, quase poderia ser a história real de tantas almas que se limitam a passar pela vida a sonhar com o que gostariam de ter mas que, para a sua própria tragédia, se deixam levar apenas pelo sonho. Sonho esse onde para não se confrontarem com a desilusão se deixam, confortavelmente, permanecer.
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8 / 10
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