segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Young Adult (2011)

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Jovem Adulta de Jason Reitman é uma comédia com fortes contornos trágicos que cimenta, uma vez mais, Charlize Theron como uma das mais fortes actrizes da sua geração.
Mavis Gary (Theron) é a argumentista de um outrora popular programa de adolescentes que agora vive a sua própria desgraça pessoal. Recentemente divorciada e com o programa prestes a ser cancelado, Mavis embarca numa viagem que a irá levar de volta à sua terra natal no Minnesota onde planeia reconquistar Buddy (Patrick Wilson), o ex-namorado que é agora casado e pai de uma jovem bébé.
Numa estranha e improvável união com Matt (Patton Oswalt), Mavis irá perceber que existem coisas que simplesmente não lhe estão destinadas... pelo menos não da forma como ela esperava e que o mundo, ao contrário dela, avançou e evoluiu por um caminho que ela simplesmente desconhece.
A já Oscarizada argumentista Diablo Cody volta aqui a escrever uma história em que dá vida a uma personagem principal que é grande demais para o espaço em que se encontra mas que, ao mesmo tempo, por muitas mudanças pessoais e geográficas que tenha feito continua, anos depois, sem conseguir encontrar o seu próprio espaço e local no qual se possa sentir enquadrada, completa ou realizada. No fundo acaba por ser a imagem daquela pessoa que sempre teve sonhos grandes demais para o local em que se encontrava e que sempre desejou, forçosamente, ser alguém um pouco "maior" do que o espaço de onde veio criando assim um constante sentimento de inadaptação que originou numa fuga assim que teve idade para o poder fazer.
As vidas mundanas onde acabar o secundário e encontrar o primeiro trabalho, a criação de família com o primeiro namorado que poderia ter tido mas que nunca teve ambições tão elevadas como as dela tendo por isso que se conformar em ficar para sempre naquela pequena terriola, eram para "Mavis" planos que simplesmente não constavam no seu caminho e que, de certa forma, sempre considerou como inferiores para si própria.
A dar corpo a esta não complexa mas intrigante personagem com o qual tantos se poderão identificar num ou noutro aspecto (mas não na sua essência) temos Charlize Theron que fora inclusive nomeada para um Globo de Ouro de melhor actriz, e que encarna aqui numa quase imaculada perfeição, o rosto desta mulher que pretende acima de tudo estampar nos outros o seu próprio sentimento de insatisfação. No fundo os seus planos eram grandes e ambiciosos e ela estava determinada a consegui-los mas, Theron espelha em cada olhar que muitos poucos, se é que alguns, dos seus objectivos foi realmente alcançado. Na prática casou, mas não com quem queria. Chegou a mudar-se para a "grande" cidade... mas não para a vida que pretendeu ter. Teve a fama na sua profissão... mas temporária. Nada chegou, por um ou outro motivo, a ser realmente concretizado ficando-se na sua maioria apenas a meio caminho, e é esta inadaptação que ela nos transmite em cada olhar, em cada tentativa de nos mostrar (sem sucesso) que a sua vida é perfeita mas, principalmente, pela sua tão grande (des)preocupação e desinteresse para consigo própria através  de alguns tiques nervosos que se foram agudizando, do alcoolismo e até pelo sexo casual que acaba por encontrar em qualquer um que a aborde mesmo que outrora considerasse essa pessoa como um ser "abominável". A sua falta de consideração pelos outros, mas sobretudo por si própria, são transmitidos a todos os minutos por uma interpretação forte e segura de uma actriz que a cada ano que passa mostra sinais de escolher cuidadosamente todas as interpretações e filmes em que participa e aqui foi mais uma aposta vencida de Theron.
Estas esperanças numa vida melhor que estão abafadas pela crueldade da vida, são também brilhantemente encarnadas por Patton Oswalt que aqui dá corpo ao rapaz que foi torturado pelos "porreiraços" do liceu, e que com isso empenharam de forma definitiva todas as suas hipóteses de um dia e futuro melhores. Ali se manteve para sempre sem esperança de poder um dia ser alguém por um acto de barbárie que foi, à altura, considerado apenas como "brincadeiras de liceu".
Estando os dois em polos opostos da inadaptação, um por querer mais do que aquilo que tem e o outro por saber que está culturalmente à frente do local onde se encontra, tanto "Mavis" como "Matt" acabam por se representar os dois adultos que nunca largaram a sua juventude. Um por estar fisicamente impedido de o fazer e como tal nunca abandonar o local que o travava psicologicamente, e a outra por independentemente de ter conseguido sair da sua pequena cidade de interior onde julgava que os seus objectivos nunca seriam cumpridos não conseguiu, no entanto, libertar-se mentalmente daquele espaço.
Jovem Adulta é, acima de tudo, um filme que nos mostra como os lugares onde fomos outrora felizes são a uma dada altura da nossa vida, os mesmos que nos conseguem mostrar de forma crua e dura como as nossas vidas podem não ser tão completas ou realizadas como pensamos e sobretudo que os lugares que escolhemos para nos refugiar das fugas ao passado podem não ser os melhores se não tivermos deixado o passado resolvido, pois este quando ainda tem contas por saldar não há local no mundo que nos possa proteger de um confronto bruto e sem piedade, pois para acordarmos precisamos primeiro de ser bem "abanados" por aquilo que a vida tem realmente para nos mostrar.
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"Mavis Gary: Sometimes in order to heal... a few people have to get hurt."
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8 / 10
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