quinta-feira, 9 de julho de 2020

Direito à Memória (2019)

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Direito à Memória de Rúben Sevivas (Portugal) é uma das curtas-metragens na secção oficial Documentário da sétima edição do Leiria Film Fest num interessante registo que une o próprio cinema - enquanto espaço físico - a um sempre por explorar contexto Histórico português do qual a informação é sempre necessária para o conhecimento e fomento de uma identidade nacional.
O espectador encontra um edifício degradado, abandonado e fechado para todo um público que passa indiferente àquela realidade. Fundado em Outubro de 1929, o Cine-Parque Chaves foi palco, em Maio de 1958, de um dos discursos de Humberto Delgado aquando da sua campanha à Presidência da República.
À medida que o espectador observa o interior daquele espaço outrora dinâmico e onde toda uma população se divertia a assistir aos mais recentes êxitos cinematográficos, agora escuta gravações desse discurso que sobreviveram ao próprio espaço por terem sido escondidos e enterrados num quintal. Enquanto que a memória - de Delgado - persiste naquelas palavras que ecoam como narração da História propriamente dita, àquela que se prende com o cinema desvanece lentamente não só perante a inutilização do espaço como principalmente pela própria memória que, também ela, não resiste com o desaparecimento daqueles que por ali passaram na sua juventude.
Enquanto as palavras de Delgado narram a decadência de um regime violento, o espectador é levado a uma imediata comparação do mesmo para com o Cine-Parque - encerrado em 1986 - que assiste à sua lenta destruição pelo abandono e para a consequente perda de todo um legado e memória local que se apagam como consequência do abandonado. A degradação de um regime (de então) e aquele do cinema (agora) misturam-se como duas formas de violência "prestadas" a um espaço geográfico - nacional e local respectivamente - que ignoram a História e o seu legado, a memória e a sua importância para a já mencionada construção do "eu" local e da identidade regional e nacional que tremem, tal como o espectador, pelo impacto de palavras que ontem, tal como hoje, não perderam a sua validade, sentido, pertinência e importância.
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8 / 10
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