sexta-feira, 10 de julho de 2020

Milénio (2019)

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Milénio de Pedro Caldeira e Paulo Graça (Portugal) é uma das curtas-metragens presentes na secção oficial Região de Leiria da sétima edição do Leiria Film Fest num ano de transformação para o festival visto ser a primeira vez totalmente online devido à actual situação de emergência sanitária.
Uma festa de fim de ano... Mas não é uma festa qualquer. Todos os temores e receios que o ano 2000 faziam adivinhar estão nesta festa vivos e vividos nos comportamentos de um conjunto de estranhos que ali se reuniu para celebrar... o fim do mundo.
São evidentes as marcas do tempo e, hoje, algo engraçados os receios que o tão afamado ano 2000 trazia na sua própria noção... O crash informático... o famoso "bug"... uma incerteza sobre o "a ele chegares e dele não passarás" e, no fundo, a compreensão de que existia uma qualquer mudança - seria cósmica?! - que a mudança de ano, de século e de milénio transportavam por si só. E, de facto, a mudança existiria e manifestar-se-ia anos depois... ou melhor... com o decorrer dos anos que lhe sucederiam... Mas, voltemos ao filme...
Milénio é uma curta-metragem sobre a folia... A esperada folia dos dias que anunciam a mudança ou uma qualquer transformação dando a compreender que nada será como dantes. Os encontros furtuitos e a própria internet - ainda o MIRC - que facilitou o encurtar de distâncias transformando o longe no perto e encerrando constrangimentos de pouca aceitação fazendo do impossível algo possível. Tudo é filmado - por detrás da câmara real e da fictícia onde esta festa é gravada como o filme dentro do filme - como se o fim fosse realmente a certeza final que espera estas personagens. Se para a dupla de realizadores esta festa é retratada com alguma nostalgia pela própria manifestada ingenuidade com que se vivia então, para as personagens às quais dão vida, esta festa de fim de mundo mais não é do que o veículo perfeito para dar cor a todas as frustrações e desejos reprimidos que agora, mais do que nunca, têm de ser vividos ou perdidos para sempre sem nunca esquecer a depressão pré-ano novo sempre vivida por alguém numa sala... mesmo que esta esteja repleta de outras pessoas.
Com um humor quase pós-adolescente, que tanto tem de corrosivo como de inofensivo, esta curta-metragem celebra acima de tudo uma outra era... uma que não estando completamente distante é encarada com algum cinismo por "nós" (que a vivemos na primeira pessoa) e compreendemos que aqueles tempos cheios dessas incertezas, receios, dúvidas e uma nítida vontade de "viver depressa", mais não eram do que dias calmos e tranquilos onde boa parte das nossas "preocupações" não eram mais do que algum tédio vivido de forma repetitiva e que, hoje sim, ainda que o milénio tenha realmente sido ultrapassada já há duas décadas, vivemos dias estranhos e sombrios que não se manifestaram nessa mudança dos mil anos mas sim nos dias que vivemos onde tudo é rápido demais para que lhe demos atenção, incerto demais para que pensemos na aventura e sombrios demais para que nos preocupemos com algumas das (esperadas) alegrias da vida.
Num humor pueril... vive-se o milénio. Num registo do passado compreendemos o que "fomos". Na compreensão do presente percebemos o quão enganados estávamos - nesse passado - em não viver o que se poderia. Na certeza (única que é este filme curto) observamos um bom momento de humor seguro que nos faz esboçar aquele sorriso unicamente possível através dessa vivência de um passado já tido e pela construção quase irreal de personagens que todos podermos identificar no nosso grupo de amigos de então.
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6 / 10
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