quinta-feira, 9 de julho de 2020

Motomiya (2019)

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Motomiya de Alexandra Debricon (França/EUA/Espanha/Japão) é uma curta-metragem presente na secção oficial de Documentários da sétima edição do Leiria Film Fest, este ano a decorrer online.
Motomiya, um homem de certa idade da Tóquio actual, narra a sua vida com Raquel, uma estudante universitária de Espanha que é várias décadas mais nova do que o próprio. Motomiya celebra a vida passada... Raquel tudo o que tem pela frente. A relação de ambos que se complementa encontra uma harmonia naquilo que ambos partilham como um valor principal... a celebração da vida.
Para lá da intensa vida de uma cidade que, também ela, nunca dorme, o elemento fundamental desta curta-metragem é a assumida cumplicidade que estas duas pessoas aqui retratadas nutrem uma com a outra. Cumplicidade essa que se manifesta sobretudo por uma ingénua infantilidade como que se Motomiya e Raquel fossem duas crianças acabas de se conhecerem e que naquele primeiro instante sabiam que tinham encontrado as suas almas gémeas.
De Motomiya, mais velho... potencialmente mais experiente mas, sobretudo mais sábio, existe uma certa tranquilidade de quem sabe que viveu uma vida plena mas que ainda tem toda uma vontade de ir um pouco mais além do aquilo que eventualmente os seus anos já lhe permitem. No entanto, é manifesto o golpe de energia que a presença de Raquel lhe proporciona e que o fazem olhar para a vida - a ida e a que está porvir - com um olhar de esperança de quem percebe que nada está terminado... até o estar. Já Raquel, por sua vez, ainda curiosa com tudo o que a vida lhe pode ainda proporcionar, encontra em Motomiya toda uma fonte de inspiração e recursos de conhecimento que lhe podem preencher a vida com uma vivência e com experiências quer sentimentais quer, eventualmente, espirituais. Aquilo que é evidente é, claro está, a cumplicidade sentida entre ambos... nas frases que se completam, numa forma de estar e viver que ambos partilham e também nos sorrisos esboçados quando se sente e compreende a presença do "outro" ali ao lado. Distantes do mundo a partilhar uma qualquer vida alternativa muito própria, o espectador compreende também a sua partilha distanciando-se, ele próprio, de uma qualquer noção sobre o que é uma vida dita "normal".
Interessante e inspiradora sob o ponto de vista de que existem várias formas de compreender e percepcionar a vida para lá da velocidade a que vive uma cidade como, por exemplo, Tóquio, o espectador aqui delicia-se com uma forma de amizade e romance diferente daquela que o cinema normalmente filma e exibe mas, sobretudo, pela perspectiva da possibilidade de uma vida que deve ser vivida e apreciada pelas pequenas coisas que todos os dias cruzam o nosso caminho e às quais, tantas vezes, tão pouca atenção lhes prestamos libertando-nos assim da monotonia dessa rotina diária.
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7 / 10
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