o28 de Otalia Caussé, Geoffrey Collin, Louise Grardel, Antoine Marchand, Robin Merle e Fabien Meyran (França) é uma das curtas-metragens de animação presentes na competição oficial da sétima edição do Leiria Film Fest.
O eléctrico 28 em Lisboa. Os turistas que se deliciam por todos os cantos da cidade. Mas... quando tudo parece revelar ser uma normal tarde de Verão... os travões deixam de funcionar.
Esta divertida e intensa curta-metragem revela dois aspectos muito interessantes da vida estival da capital portuguesa... por um lado temos uma cidade com o maior registo de luz solar ao longo do ano que aqui se assume como a personagem - e a tela - silenciosa de uma história estival... por outro, encontramos os eternos turistas que, nas suas mais diversas formas e feitios, invadem e assumem as rédeas da vida diária da cidade (que também nunca dorme), captando todos os momentos e todos os recantos da cidade e da sua vida na mesma para um dia mais tarde recordar. Atropelando tudo e todos os que se cruzam no seu caminho, ainda que aqui apenas centrados no famoso eléctrico Lisboeta, nada pode passar ao acaso. Mas... o que acontece quando esta visita dá início a todo um conjunto de acidentes que revelam que a cidade, às mãos dos mesmos, está preparada para o desastre?!
O espírito da cidade e o cuidado que o conjunto de realizadores teve em captar pequenos grandes elementos de Lisboa nomeadamente as colinas pelas quais o eléctrico desce a uma velocidade vertiginosa, a panorâmica da mesma ou os seus inúmeros monumentos bem como os mais caricatos turistas que todos nós conhecemos das ruas da cidade, dão aqui uma cor e um brilho especial que transforma esta curta-metragem numa experiência única e alucinante da qual dificilmente se passa sem notar. Única porque é captada uma certa essência tradicional de uma cidade que se assume cada vez mais cosmopolita sem esquecer os já mencionados recantos que destacam a sua tradição milenar e, ao mesmo tempo alucinante, porque as "invasões" (por vezes bárbaras) que a assolam todos os períodos estivais conseguem transformar a outrora pacatez de Lisboa numa vibrante experiência da qual nem os paquetes com hordas de turistas são esquecidos.
De produção francesa mas com uma assumida alma portuguesa, o28 prima, acima de tudo, por uma garra de boa disposição e uma invulgar energia que conquistam o espectador desde o primeiro instante. Uma curta-metragem símbolo maior de uma animação fresca e desempoeirada capaz de reter o melhor do género e constituir-se, ao mesmo tempo, como um belíssimo exemplar da cidade de Lisboa e dos seus lugares dignamente representados e homenageados com singular beleza e criar, ainda, um conjunto de personagens que, tipificadas, conseguem ser uma paródia ao turista moderno, sedente de momentos captados, de experiências únicas e de uma aventura que fica para o resto dos seus dias.
o28 é uma alma... é uma energia... e uma boa disposição instantânea e selvagem que é, seguramente, um dos mais intensos registos de animação do ano ao qual nenhum irá - ou poderá- ficar indiferente.
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8 / 10
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