sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Vingança de uma Mulher (2012)

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A Vingança de uma Mulher de Rita Azevedo Gomes foi um dos filmes que infelizmente me tinha escapado na altura que estreou mas que devido a uma excelente iniciativa do cinema King em repôr alguns filmes que passaram comercialmente pelas salas de cinema portuguesas, consegui ter a oportunidade de assistir meses depois de ter saído de cartaz.
Roberto (Fernando Rodrigues) é um homem aparentemente desligado de tudo e todos os que o rodeiam. Emocionalmente afastado de qualquer tipo de emoção ou sentimento, um dia vê uma prostituta que o seduz (Rita Durão), e persegue-a para uma noite de prazer descomprometido.
É já no seu quarto que Roberto toma conhecimento da trágica história desta mulher que é afinal a Duquesa de Sierra-Leone, mulher de um abastado Duque da corte espanhola. Agora ela prostitui-se por ter sido privada do seu verdadeiro amor que fora literalmente atirado aos cães pelas ordens do Duque seu marido.
Se a interpretação de Rita Durão não é mais menos do que brilhante, o que é certo é que este filme falha no seu contacto com o público. Por um lado temos uma forte interpretação feminina que devora o ecrã a todo o instante. Se Rita Durão, quase presença única no ecrã e que o "engole" a cada segundo com a sua presença, não é menos verdade que se a retirarmos de lá todo o filme morre no instante seguinte. A sua já rica personagem apenas é engrandecida com a sua interpretação que consegue conter todas as emoções típicas de uma tragédia. Loucura, desespero, vingança, sofrimento e ódio. Todas contidas nas palavras que escutamos.
No entanto, nem tudo é perfeito. O filme não vive de mais nenhuma personagem que o povoa. O Roberto de Fernando Rodrigues é literalmente apagado. Não precisaríamos de um actor quase adereço do filme para que nos fosse retratado um homem desligado do mundo, e as demais interpretações do filme são elas igualmente quase decorativas. João Reis e Francisco Nascimento ainda por lá dizem umas falas, mas a presença de uma sempre magnífica Isabel Ruth que aqui não profere uma palavra é, para mim que sou um fã, algo que deixa um verdadeiro amargo de boca.
A vingança, único mote e propósito de vida de uma mulher que foi privada do seu único e verdadeiro amor, não poderia ter encontrado uma mais perfeita forma de ser interpretada no grande ecrã. Aqui esta vingança é auto-infligida. A Duquesa ao ser privada do seu amor, abandonou tudo. Afastou-se de um mundo de opulência onde era senhora de grande riqueza (por casamento), para se entregar a uma vida de auto-humilhação onde servia de mulher de prazer sexual que, pelo qual, praticamente nada cobrava. O seu único propósito era lançar o nome do seu marido na lama através do seu próprio corpo. Nada mais lhe interessava. Ela, como refere, é mulher de uma moeda só. O seu serviço não é sexual... é de vexame.
Opulento, ou pelo menos o suficiente para um filme que se quer de época, está o guarda-roupa ou a própria filmagem que transforma aquele quarto de prazer num verdadeiro antro de loucura descontrolada. Vários são os momentos em que os movimentos giratórios da câmara nos deixam perfeitamente conscientes da verdadeira condição em que a Duquesa se encontra.
No entanto nem tudo é perfeito, e são estes pequenos grandes detalhes que me deixaram desiludido com o filme. Além das personagens meramente "decorativas" que povoam este filme, o pior encontra-se na sua falta de expressão e emotividade mas, mesmo que quisesse ignorar este aspecto, outro seria impossível de lhe fechar os olhos. Quando o Duque manda assassinar o seu primo, amante da Duquesa, e lhe manda remover o coração deixando-o morto no chão, é impossível de não verificar como o cadáver continua a respirar como se tivesse terminado a maratona. Se considerarmos  que já falta alguma dinâmica ao filme, tê-la neste momento onde a morte se pretendia credível... faz cair por terra toda a pouca que poderia até então ter.
Redime-se, mas pouco, com o seu segmento final após a tomada de conhecimento da morte inglória (para nós) da Duquesa, e pelo seu magnífico momento musical que se consegue transformar no único momento emocionante de todo o filme e com o qual o espectador pode ser tentado a sentir alguma empatia para com toda aquela tragédia.
Dotado de fantásticos aspectos técnicos que passam desde a sua filmagem ao seu guarda-roupa, um argumento forte para o transformar num filme verdadeiramente trágico e uma interpretação auto-suficiente de Rita Durão, este filme consegue, no entanto, falhar por não recriar momentos que sejam realmente credíveis como possíveis de acontecer. Não pela história ou argumento mas pela execução dos mesmos que torna quase teatral uma história que se quer de pura vingança e desprezo pelo "eu".
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"Duquesa de Sierra-Leone: Eu sou mulher de uma moeda só."
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4 / 10
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