Red State de Kevin Smith é um dos mais recentes filmes do realizador que nos habituou às suas excêntricas comédias mas que aqui nos entrega um irónico e não menos aterrador olhar sobre os actos e comportamentos das seitas religiosas que povoam o interior profundos dos Estados Unidos da América.
Quando três jovens adolescentes perdidos numa qualquer pequena cidade do interior consultam e descobrem num site de sexo uma mulher nas redondezas disposta a uma aventura em grupo, não hesitam em contactá-la e marcar um encontro escaldante.
No entanto, aquilo que eles não sabiam é que Sara (Melissa Leo) é membro de uma seita fundamentalista que advoga que os homossexuais e os sexualmente promíscuos são o mal que corrompe a sociedade lançando-a numa espiral sem fim rumo ao Inferno. Aquilo que os espera é apenas e só a vingança e o castigo divino às mãos dos membros da seita... e não só!
Apesar de fugir um pouco ao tópico principal do MOTELx, pois de terror este filme não tem nada, ele dá-nos no entanto um interessante olhar sobre os preconceitos existentes numa sociedade que é, de certa forma, fechada e auto-info-excluída (grande expressão).
Num tempo de crise tanto financeira como principalmente de valores e de moral, o dom da palavra e o poder persuasivo de alguém melhor dotado de algum carisma, mostra-nos como é possível conquistar as mentes dos psicologicamente mais fracos, ou sensíveis, remetendo-os para um rumo de seguidores cegos das "verdades" alheias, afastando assim aquilo que é dito ter-nos sido entregue por uma entidade divina e que nos dá o poder de escolha... o livre arbitrio.
Do elenco não há grande destaque além das presenças mediáticas de Melissa Leo que consegue encarnar um rosto, até certo ponto, pacífico do Mal, e da participação em tom quase de comédia que John Goodman dá ao filme ao interpretar o agente do ATF que pretende desmascarar e capturar todos os membros daquela seita. No entanto, também seria injusto não destacar a interpretação de Michael Parks que com o seu "Abin Cooper" consegue ser um vilão bem mais assustador do que se fosse um qualquer extraterrestre que povoava o ecrã. Aqui a encarnação do mal é real... sabemos que estas pessoas existem e que facilmente controlam as mentes mais susceptíveis que se encantam com uma boa dose de palavras refugiadas numa "validação" biblíca.
Depois de alguns momentos mais ou menos tensos podemos também reflectir na acção policial que se torna tão agressora como aqueles que mantiveram em cativeiro os jovens que procuravam uma noite de diversão. Até que ponto se distanciam os "bons" dos "maus" quando ambos não se importam de sacrificar vítimas inocentes tendo como único propósito a justificação das suas acções e o "bom nome" das organizações que representam?
Finalmente destaco ainda o final muito característico da filmografia de Kevin Smith que em tom de ironia e muito crítico da sociedade norte-americana e dos seus crescentes fanatismos, consegue dar um tom de comédia sarcástica sobre como todas as más acções conseguem sair ilesas e justificadas perante a ignorância (consciente ou não) de uma sociedade que simplesmente não quer saber desde que o que lhe seja apresentado esteja limpo e polido.
Interessante filme, apesar de distante das obras habituais do realizador, mas que ainda assim consegue ser uma obra triunfante e bem interessante que não nos prende ao ecrã mas deixa-nos a pensar sobre o mundo em que vivemos.
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7 / 10
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