Bird Karma de William Salazar (EUA) é uma curta-metragem de animação presente nesta edição do We Are One - A Global Film Festival que este ano se inicia na plataforma oficial do mesmo e que apresenta a realidade de uma pequena ave que, no pântano, se deixa deslumbrar pela vida vegetal e animal esquecendo até que, também ele, é alvo de admiração.
A empatia é imediata quando observamos esta animada (literalmente) ave e o seu voar dançante por uma lagoa onde é seduzido pela vegetação envolvente e pela vida marinha que encontra como se fosse esta a primeira vez que "sai" do seu habitat e encontra todo um mundo por explorar. Como bom caçador que se quer afirmar num espaço novo onde os passos ousados determinam, em boa medida, a sua própria sobrevivência, a ousadia pela descoberta da novidade fá-lo saltitar de presa em presa como se tivesse encontrado o novo pote de ouro das redondezas. Aquele lago parece fazer brotar a cada recanto todos os recursos que ele necessita para compreender que ali... é rei. Mas, tal como ele espreita o que surge em seu redor, também ele é observado podendo esconder-se por detrás do invisível o seu próprio predador.
Ao som de uma música totalmente sensorial cujo misticismo invade a própria percepção do espectador que se deixa levar num ritmo dançante onde sobrevivência, vida e morte se cruzam a cada segundo que passa, este Bird Karma lança-se (e a nós) numa viagem que primeiro diverte pelos comportamentos semi-infantis das sua personagem principal para lentamente cativar a atenção pelos pequenos detalhes de riqueza cénica que transformam este filme curto num curioso caso de obra que consegue levar o seu espectador a imaginar todo aquele mundo mais "selvagem" distante da sala de cinema enquanto que, ao mesmo tempo, nos confere a sensação de que tudo está bem quando, na realidade, perigos inesperados podem esconder-se prestes a atacar. Música essa que coloca o espectador num transe que se conjuga harmoniosamente com as cores luxuriantes de um cenário misticamente real que nos faz esquecer que os perigos podem espreitar disfarçados pela opulência que nos distrai do que está para lá do imediatamente visível... Com uma inicialmente compreendida inocência, esta curta-metragem revela que por vezes, o que seduz pode realmente guiar-nos para a anunciada perdição e confirmar a insuspeita auto-destruição.
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8 / 10
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