Deathless de Katie Carpenter e Jenna Canell (EUA) é uma das curtas-metragens que foi exibida no Trapped Film Festival e onde o espectador é transportado para tempos futuros após um evento impediu os humanos de morrer, de envelhecer ou de engravidar.
Agora, numa quinta distante daquilo que resta da civilização uma família vive na tranquilidade do campo até serem perturbados por três ladrões que procuram uma mercadoria muito especial.
Trinta anos depois do "Crash" que modificou a vida tal como todos a conheciam - desconhecem-se os motivos, o cataclismo ou o apocalipse tal como ele foi -, esta curta-metragem recupera o género onde o retomar a vida normal após o conflito é a palavra de ordem. Mas, a questão levanta-se quando nada é apresentado sobre o que existe para lá daquela pacatez que o campo parece proporcionar a um grupo de pessoas que tentam manter-se fora dos olhares mais curiosos construindo a sua vida tal como ela (lhes) parece "normal". Das imagens do caos e dos distúrbios às notícias da desordem e de um Estado sem lei, encontramos então uma paz podre que apenas existe quando ninguém sabe que estas almas perduram num espaço onde, possivelmente, têm algo mais a esconder do que aquilo que a vista desarmada apresenta.
Entre estes sobreviventes pacíficos e os guerrilheiros da estrada muito ao estilo de um Mad Max, Deathless é a nova entrega de um conjunto de filmes (neste casos curtos) que recupera o género que prolifera numa altura em que a própria existência do espectador - dentro e fora da sala de cinema - está num estranho impasse. Com um cenário idílico no seio de um mundo que se compreende apocalíptico, esta curta-metragem apresenta aquilo que, tragicamente, já conhecemos dos destinos da Humanidade... enquanto uns tentam recuperar a normalidade que conheceram de tempos que são, neste agora, distantes, outros rendem-se e entregam-se a uma vivência de marginalidade onde o dinheiro e os bens materiais ganham uma importância ainda maior do que nesse "antigo normal"... mas o que aconteceria se esses "bens" fossem agora as vidas humanas que, não sendo escassas, apresentam características muito próprias que as tornam "únicas"?
Na selva humana que é aqui tragicamente ilustrada por um "novo normal" onde as regras de civilização já há muito que desapareceram, Deathless é o reconto de tempos trágicos que, transformados pela mão do Homem, sucumbem pelas mesmas aproximando-se a cada dia da perdição e da total desumanização... E ainda que o cenário em que personagens e espectador se encontrem aparente querer mostrar um qualquer paraíso, rápido se compreende que mais não é do que uma vã miragem ou ilustração do mesmo. Não sendo uma novidade em termos de cenário ou de história e deixando em falta toda uma contextualização histórica sobre os acontecimentos que (n)os transportaram a este momento, esta curta-metragem consegue, ainda assim, manter uma construção técnica digna para o género cinematográfico em questão bem como manter uma coerência nos vilões e "heróis" (que não o são) revelando os dois lados de uma realidade que qualquer um de nós poderá observar independentemente dos tempos e dos dias que vive... ou viverá.
.
7 / 10
.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário