sexta-feira, 29 de maio de 2020

Marooned (2019)

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Marooned de Andrew Erekson (EUA) é uma das curtas-metragens de animação que compõem a programação oficial desta primeira (e online) edição do We Are One - A Global Film Festival que reúne algumas das obras mais emblemáticas dos mais diversos festivais de cinema que, este ano, encontram uma inesperada estagnação graças à situação de emergência sanitária provocada pelo COVID-19.
Esquecido numa base lunar, o pequeno C-0R13 tem como única missão poder construir uma nave que o leve de volta à Terra. Mas, é quando conhece A-L1C1A que a sua personalidade e verdadeira essência são testadas ao limite.
Há um sentimento de imediata saudade que brota no espectador nos primeiros instantes de Marooned quando observa, pelos olhos do pequeno robot "C-0R13", a Terra lá distante. Perdido, esquecido e abandonado num espaço que não é o seu mas no qual encontra um inesperado e pouco desejado lar, o pequeno robot tenta, com os detritos deixados pelos humanos que também se esqueceram dele, construir um qualquer veículo que o possa transportar de volta a casa e àquilo que sempre conheceu. A saudade estampada no seu "rosto" - interessante definição esta uma vez que o próprio não o tem mas são os pequenos movimentos animados que lhe são conferidos que transportam todas as expressões faciais possíveis - é fruto desse tal isolamento (e distanciamento social que agora tão familiar nos é) que caracterizam a mais básica da sensações do Homem... a solidão. É por esta, e como forma de a transformar e perder, que qualquer um deseja o contacto e interacção física que acabam por ser características do Homem aqui retratadas nos actos, e no desejo, desta "máquina" que consegue ser tão humana (talvez mais) do que o próprio criador. Aliás, é fácil durante mas especialmente depois de observarmos esta obra, identificar tantas expressões e comportamentos humanos através primeiro desse isolamento, depois da constante necessidade de atingir um objectivo, também revelar a extrema capacidade de pensar no "eu" como forma de chegar ao outro lado e, finalmente, expôr perante esse referido "eu" que existe um bem maior pelo qual lutar e pelo qual abdicar de todo um trabalho porque existe "alguém" que precisa de "lá" chegar primeiro do que o próprio. O Homem, tão distante que se quer manter da máquina, depositou nela uma qualquer consciência que o humaniza para lá do esperado... para lá da própria Humanidade que por vezes tão pouca revela.
A saudade e a emergência de estar no Planeta Azul estão de tal forma presentes que o pequeno "C-0R13" guarda consigo pequenos pertences dessa terra idolatrada como uma divindade... da foto da Torre Eiffel à vontade de, à distância, conseguir ter por entre os seus dedos o planeta revela para um espectador mais atento, um desejo extremo que parece estar apenas à distância de um pequeno toque. No entanto, é no contacto com a sua nova parceira, também ela mecanizada, que despoleta a existência de um novo e desconhecido sentimento... Poderemos teorizar sobre amizade ou amor ou sobre como ambos são os braços de um único sentimento, mas é na abnegação para com o "outro" tido por "C-0R13" que descobrimos e conhecemos a sua verdadeira dimensão afectiva e sentimental. A abnegação para com esse "outro", ainda relativamente desconhecido, mas que é a personificação - palavra bem escolhida quando encontramos a manifestação de um sentimento tão humano - da vontade de estar perto... de sentir... transforma este pequeno robot esquecido num destino distante naquilo que, talvez, qualquer um de nós gostaria de ser ou sentir para com outro num universo que nos aproxima... mas principalmente distancia pela incapacidade de expressar pelo "outro" o mais nobre dos sentimentos. Sacrificando a sua existência... que sobrará dele para um mundo que... não conhece?!
Num olhar romântico sobre o amor e a sobrevivência do "eu" num mundo onde a individualidade e a solidão ganham contornos tristemente presentes e reais face às adversidades do momento - ainda que esta curta-metragem já esteja datada de há um ano -, este Marooned cativa pela sua inocência, por uma mensagem de esperança trazida pela abnegação derivada de um inesperado amor mas sobretudo pela simplicidade emocionante com que primeiro se vive o sonho e depois dele se abdica pelo bem maior do "outro" tantas vezes difícil de encontrar no cinema... quanto mais na dita "vida real".

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8 / 10

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