sexta-feira, 29 de maio de 2020

Toto (2020)

 

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Toto de Marco Baldonado (Canadá) é uma das curtas-metragens que passa neste primeiro dia do We Are One - A Global Film Festival que decorre na plataforma online do mesmo decorrente da actual situação de emergência sanitária provocada pela pandemia do COVID-19.
Uma avó solitária (Rosa Forlano) com noventa anos de idade encomenda um robot. No processo de o transformar como o seu novo, e talvez único, amigo, desenvolve-se uma relação que se aproxima da paixão. Mas tudo tem um fim... que se aproxima rapidamente.
Num mundo em constante transformação, Toto vem relembrar o espectador de que as realidades individuais de cada um de nós são variadas tendo, no entanto, um aspecto que parece cruzar todos numa determinada altura da vida... a solidão. Com uma verdadeira "nonna" italiana, a actriz Rosa Forlano - a própria avó do realizador Marco Baldonado -, interpreta uma mulher que o espectador imediatamente compreende como alguém que vive uma vida solitária e isolada... Isolada mesmo neste mundo em constante transformação onde as redes sociais e as tecnologias parecem invadir as nossas vidas a cada dia que passa aproximando-nos geograficamente mas distanciando-nos fisicamente. Num simpático e por vezes divertido registo, Forlano entrega-nos, e faz-nos por momentos esquecer, o verdadeiro drama por detrás dos seus comportamentos. Aquilo que aqui observamos é, na realidade, o retrato de tantas pessoas mais idosas que, no silêncio do esquecimento e do afastamento mais ou menos voluntário de uma família com as suas vidas - diferentes da sua pelo distanciamento físico e geracional - por viver, estão solitárias ao ponto de encontrarem na tecnologia, a única forma de se poderem voltar a consolidar e pactuar com um mundo que é para elas, já bem distante e diferente daquele que outrora conheceram. Recorrendo ao mais tradicional da cultura popular mediterrânica, Rosa "la nonna" refugia-se na cozinha e no prazer de comer, a forma de se reconciliar e ligar a e com esse mundo "lá fora" encontrando, portanto, o veículo para compreender que a vida vida tem, uma vez mais, o sentido que havia perdido há anos.
Inteligentemente construída para primeiro conferir-lhe um ritmo inovador que nos coloca num tempo incerto no futuro mas que, depois, nos faz compreender que as realidades que ali se fazem sentir - afastamento da família, isolamento social das populações mais idosas, avanço tecnológico e choque geracional entre outras - são tão próximas que muitas são infelizes realidades que já hoje qualquer um de nós vive, conhece ou reconhece. Com um desempenho cómico, dramático, emotivo e onde consegue dar corpo a uma profunda tristeza e compreensão de que o mundo parece já não ser o "seu", Rosa Forlano é brilhante nos seus pequenos passos, na sua concepção da realidade (interior e exterior) e principalmente na "forma" que dá a uma solidão que não será só sua mas de todos os que não conseguem acompanhar este novo mundo (mais ainda será no futuro que aqui se pretende retratar) sem que, no entanto, alguma vez perca a sua humanidade e humanismo encontrando até... a Humanidade numa tecnologia ultra-avançada. Forlano conquista-nos por essa humana simplicidade que por vezes dificilmente se reconhece mas que está "lá"... no coração daqueles que ainda anseiam viver. Numa única palavra, Rosa Forlano é simplesmente... magnífica.

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8 / 10

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