New York New York de Spike Lee (EUA) é a última obra do realizador de BlackKklansman (2018), agora num formato de curta-metragem para prestar uma homenagem à cidade de Nova York numa época de incertezas e inseguranças que a levam, tal como já sucedera noutras cidades do mundo semanas antes, num improvável e desolador cenário de total ausência de vida humana.
Ao som de "My Way" por Frank Sinatra, Spike Lee homenageia inicialmente todos os pequenos grandes lugares que qualquer espectador mais atento de um qualquer filme centrado na cidade que nunca dorme reconhece de imediato. Percorremos, nos primeiros instantes, a cidade em tons quase opacos que nos permitem observar como que um amanhecer que, numa outra época dita "normal", faria adivinhar as centenas de milhares de pessoas que iriam percorrer ruas cada vez mais cheias de vida, som e movimento, mas que agora parecem desvanecer com um invulgar silêncio. Poucos automóveis, ainda menos pessoas, e edifícios gigantescos que desenham um outro horizonte. O silêncio ou, pelo menos, aquele provocado pela ausência humana, é apenas interrompido pelo ocasional vestígio dessa outrora realidade ou de algum ruído dessa Natureza agora distante.... Uma gaivota... o mar... o vento...
Mas este New York New York, num assumido registo de total devoção, dedicação e amor para com a cidade não existe apenas para a homenagem àquilo que a cidade representa mas sobretudo àqueles que lhe dão essa cor que todos conhecemos - pelo menos... por aquilo com o qual somos (fomos?!) diariamente bombardeados pelos inúmeros relatos que chegavam da cidade -, mas sobretudo àqueles que agora lutam contra uma ameaça invisível como esta representada pela pandemia do COVID-19. Não, não estamos perante um qualquer filme fatalista pós-Humanidade (pelo menos não é essa a intenção com a qual foi dirigido), mas sim um de eterna devoção a uma alma que transcende qualquer realidade momentânea e que representa the tough and the brave que hoje salvam e protegem as vidas das vítimas que adoecem... de enfermeiros àqueles que trabalham nos transportes, de funcionários de limpeza urbana aos médicos, todo o "pessoal" que passa, de certa forma, invisível e até mesmo pouco apreciado noutras realidades que agora nos parecem distantes, é aqui homenageado nos instantes finais desta curta-metragem cujo único propósito é celebrar a vida, a alma, o espírito, a dedicação e o amor a uma cidade e a um povo que vive (tem vivido) segundo duas principais máximas... Aquela cantada por Sinatra, um dos seus mais representativos símbolos, em "My Way" e até mesmo aquela expressa no próprios nome/símbolo da cidade que todos amam... New York.
Num estilo documental e com o sentido de homenagem, as imagens quase paradas no tempo de uma cidade cosmopolita apelam a um sentimento de emoção (ou comoção?!) terminando com um elevado sentido "patriótico"... não para um qualquer país mas sim para com a cidade que o transcende e que lhe sobreviverá. Não será a obra mais emblemática de Spike Lee mas será, seguramente, um das suas mais pessoais e emotivas para um contexto que já sendo História ficará nela marcado para lá de todas as obras que o realizador já entregou ao seu público.
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7 / 10
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