O Brilho do Dia de Tizza Covi e Rainer Frimmel foi mais uma das longas-metragens em competição no Lisbon & Estoril Film Festival de produção austríaca que nos conta a história de Philipp ( Philipp Hochmair), um jovem actor que divide a sua carreira entre Viena e Hamburgo e que um dia conhece o seu tio Walter (Walter Saabel), de quem pouco ou nada sabe além de que este sempre manteve uma relação conflituosa com o seu pai.
No mesmo edifício vive ainda uma família proveniente do leste europeu, da qual a mulher fora deportada para o seu país de origem e Victor (Vitali Leonti) que se mantém dividido entre as responsabilidades de pai e com o seu trabalho precário. É neste ambiente que Philipp toma conhecimento de uma realidade diferente da sua e que afecta uma Europa em constante transformação.
Se por um lado este aparenta ser um filme com um interessante argumento escrito pelos dois realizadores em parceria com Xavier Bayer, também não deixa de ser verdade que este é aparentemente, um dos filmes mais frágeis da secção competitiva.
A sua história é suficientemente interessante para nos captar a atenção. Um jovem e proeminente actor que poucas preocupações tem na vida e que não mantém nenhuma relação que se possa considerar duradoura, conhece inesperadamente o seu tio que sabe ser a "ovelha-negra" da família. Este já idoso e desamparado não mantém, também ele, nenhuma família, ligação afectiva, lar ou sequer (pelo que mais tarde percebemos) nenhuma forma de sustento e sobrevivência e que procura agora que sente o fim da sua vida, um porto de abrigo seguro e confortável. Ao mesmo tempo temos um imigrante de leste que representa as amarguras de um povo que pretende agora encontrar dias melhores num ambiente relativamente hóstil, persecutório e que enfrenta também ele a sua própria crise quer financeira quer de valores e direitos.
Podemos por um lado pensar que é uma história actual e que nos retrata os dias negros que muitos de "nós" hoje atravessamos. A indiferença, a exclusão, as carências económicas que, todos unidos, agravam o individualismo, a depressão e a indiferença face aos problemas alheios. O retrato de uma Europa que se quis opulenta e abastada mas que aos poucos se encaminha para um território frio, seco e inexpressivo.
No entanto é também justo dizer que este filme não consegue criar uma ligação franca e verdadeira com o espectador. As ideias principais encontram-se lá e a vontade de criar uma identificação com o seu público mantém-se quase sempre muito distante dificultando esta "ligação" entre ambos, fazendo com que os factos expostos sejam quase descritivos e não com o intuito de que esse retrato seja realmente cumprido. No fundo, será quase como tirar uma fotografia sem nunca a mandar revelar, não criando assim identificação e memória do momento em questão.
É interessante e revelador de algum potencial mas na prática sentimos que terminámos de ver um documentário muito expositivo e que falhou na componente dramática das personagens. Fruto de alguma "frieza" nórdica... talvez. Mas não deixa de ser verdade que merecia um pouco mais de "calor mediterrânico" que provocasse mais facilmente uma identificação do espectador com as suas personagens.
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6 / 10
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