sábado, 24 de novembro de 2012

Fin (2012)

.
Fim de Jorge Torregrossa presente na edição deste ano do Cine Fiesta a decorrer em Lisboa, foi um filme que seduz todos logo no exacto momento em que vemos o seu trailer.
Vinte anos depois de terem deixado de estudar juntos e das suas vidas seguirem o seu rumo natural, um grupo de amigos decide reencontrar-se a pedido de um deles. O Profeta (Eugenio Mira) é aquele amigo que todos esperavam não ver... Nesse último encontro que haviam tido, o Profeta balbuciou um conjunto de teorias sobre o final do mundo que a todos assustou, levando-o inclusivé a tratamento psiquiátrico.
Com este reencontro Félix (Daniel Grao), Sergio (Miquel Fernández), Rafa (Antonio Garrido), Sara (Carmen Ruiz), Hugo (Andrés Velencoso) e Maribel (Maribel Verdú), pretendem retomar os laços após um largo intervalo de tempo e matar as saudades da sua época de estudantes onde eram um grupo coeso e unido.
No entanto, e longe das suas expectativas, o reencontro mostra que por detrás de todos os sorrisos ocasionais e esperanças que tinham do seu futuro agora bem real, que os problemas e os ressentimentos com o passado existem e estão bem vivos. Mas com o cair da noite os estranhos acontecimentos sucedem-se mostrando que para além das banalidades que a vida lhes reservou, a provação em que seriam agora colocados seria bem mais importante e assustadora.
O argumento da autoria de Jorge Guerricaechevarría e Sergio G. Sánchez baseado na obra homónima de David Monteagudo, não poderia ser mais aliciantes. Um filme sobre o final dos tempos em plenos ano de 2012 com tantas profecias em seu torno, só podia ser um filme apetecível e sobre o qual todos falam e querem ver. No entanto, este filme, e principalmente esta história, vai muito para além de um simples filme do final do mundo tal como o conhecemos. Bem pelo contrário, esta história não se prende com uma qualquer destruição do planeta face a um conjunto de cataclismos naturais que dizia a população. Aqui falamos da estranha e misteriosa extinção da Humanidade. Apenas e só dela e não dos espaços e das obras que todos conhecemos e vemos.
Sem que nunca assistamos a uma morte concreta, aquilo de que vamos tendo relato é que alguns dos intervenientes na história vão, aos poucos, desaparecendo da mesma. Primeiro um... depois outro... sempre afastados dos olhares dos demais, todos eles começam a desaparecer do mundo. Falamos de uma literal extinção sem que seja prejudicada a obra que, fica agora, para trás. Se inicialmente assistimos apenas a uma casa deserta enquanto o nosso conjunto de personagens percorre uma montanha, não deixa de ser verdade que aos poucos e à medida que se aproximam das povoações que deveriam estar repletas de pessoas no seu normal dia-a-dia, o que é certo é que é neste preciso momento que nos apercebemos do quão desolador é o cenário. Não temos qualquer tipo de destruíção ou de um panorama alterado por uma qualquer catástrofe. Aqui a desolação chega por vermos locais, ruas, estradas desertas e abandonadas. Carros parados no meio da estrada... lojas e casas vazias. Mas tudo, sem excepção, perfeitamente intacto, arrumado e preparado como se esperasse que alguém voltasse a ocupá-los.
Não fosse o sentido quase Bíblico do desaparecimento de todas as pessoas do mundo, e digo-o desta forma pois sem vermos literalmente o que acontece percebemos por um reflexo o quão assustador poderia ser um momento destes (mais que não fosse por sabermos então o que havia acontecido a todos aqueles que amamos), poderíamos até pensar que tudo estava silenciosamente "à espera" de recomeçar, e é exactamente nesta perspectiva que esta história acaba por assustar. Não por uma qualquer destruíção e cenário dantesco mas sim por vermos que todos os locais ditos normais da nossa existência se mantêm mas... sem "nós".
No entanto, e por estranho que pareça num filme deste género que está normalmente apenas associado a um qualquer extermínio do planeta, este tem uma história de fundo com potencial suficiente para enriquecer as personagens mas que pela infelizmente curta duração do filme, não se explora o suficiente. A começar de imediato com a personagem principal Félix que se apresenta como uma namorada vinte anos mais nova Eva (Clara Lago) que percebemos, quando os momentos apertam, não ser mais do que um encontro combinado. Sabemos ainda que Maribel sempre viveu um amor não correspondido por Félix e que se casou com o seu melhor amigo apenas por poder sentir que estava um pouco mais perto dele... e finalmente a revelação surge quando percebemos que Félix sempre manteve uma relação conflituosa com Hugo porque por ele sentia uma evidente paixão não correspondida, e que vê neste encontro uma forma de se reaproximar dele.
Temos ainda os tão actuais problemas económicos representados pelo casal Maribel e Rafa, e como estes afectam a sua relação matrimonial, apenas exponenciados com a presença de Félix, antigo amor de Maribel, provocando assim velhos ressentimentos que há muito estavam extintos. O casamento que falha por traição representado por Hugo e Cova (numa interpretação contida mas com um extremo potencial de Blanca Romero), e finalmente a representação daquela pessoa que sendo amiga de todos mas nunca conseguindo estabelecer a sua própria vida afectiva e sentimental através da personagem Sara (Carmen Ruiz), sendo aquela que se encontra mais só estando tão perto de todos. Temos, no fundo, um filme que pretende não mostrar o fim do mundo mas sim o fim da Humanidade. Principalmente o fim (ou o início) daquela que todos nós escondemos, preferindo assim não olhar para aquilo que somos e representamos. Dito isto, é fácil perceber que o Fim é nosso e não da Civilização que construímos. Essa representa, e representou, o melhor de cada um de nós, aquilo que deixámos da nossa presença e da nossa marca enquanto Humanidade mas que alude igualmente ao nosso próprio final... ao esgotamento daquilo que representámos.
Se pensarmos nestas premissas e de como ele "falha" enquanto o dito tradicional filme apocalíptico, consigo perceber o "porquê" de estar tão mal cotado e suscitar tão pouco interesse por parte do público. "Falha" na habitual espectacularidade do fim e da destruíção, no entanto a meu ver a única falha que pode ter, e como já referi, é a sua curta duração que não permite um merecedor desenvolvimento de todas aquelas personagens que se percebe terem muito mais para dar da sua história pessoal.
É um filme interessante e que se reflectirmos bem sobre a sua essência percebemos que tem potencial e principalmente como gostamos (alguns de nós pelo menos) de ver um filme onde tudo literalmente acaba, do que assistirmos a um filme que pede que pensemos sobre o como nós próprios estamos a desaparecer (ou um dia desaparecemos) e que poderemos (ou não) deixar a marca da nossa breve "estadia" pelo planeta.
.
.
7 / 10
.
.

6 comentários:

  1. Achei o filme muito bacana, mas concordo que por ser muito curto faltou um pouco... acho que o próprio final dele ficou no ar de mais, demorou um pouco para entender mesmo agora ainda não entendi direito, mas o motivo por que eles somem isso eu já saquei quando a Cova some

    ResponderEliminar
  2. É um excelente filme...
    Tem de se ter muito raciocínio e paciência.
    É o tipo de filme que mais gosto (O que é meio estranho para um garoto de 15 anos)
    Agora, ao pessoal que escreveu essa sinopse e resenha, estão de parabéns, muito bom.
    Lendo essa resenha, me deu até vontade de ver o filme novamente. Obrigado.

    ResponderEliminar
  3. Muito obrigado a ambos pelos vossos comentários. É bom saber que o meu trabalho é seguido e que suscita a vontade de que os filmes - todos eles - sejam descobertos ou revistos :)

    Abraços!

    ResponderEliminar
  4. Para mim, eu gostei bastante este filme. Na verdade, eles estão falando sobre o tema o fim do mundo, este é um dos meus favoritos. Eu amei a forma como a história foi.

    ResponderEliminar
  5. Filme muito ruim, com personagens rasos e diálogos sofríveis. Ao final, muitas questões sem respostas. Perda de tempo . Nota 2/10

    ResponderEliminar