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Land of My Dreams de Yann Gonzalez foi outra das curtas-metragens presentes na terceira edição do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra, e a par de Sombras, um dos pesos pesados da noite, e arrisco dizer do próprio festival.
Após vários anos de separação, Bianca (Julie Brémond) regressa à cidade do Porto onde reencontra a sua mãe (Paula Guedes). Sem forma de subsistir sem o apoio da sua mãe, Bianca junta-se-lhe e partem estrada fora na sua caravana onde esta faz pequenos espectáculos de dança erótica para os ocasionais mirones que pagam à medida que ela se despe.
Enquanto de dia os seus momentos são de pura provocação e leve excitação, de noite tudo ganha uma nova alma, tão ou mais decadente quanto os locais em que se encontram e de onde por entre as sombras surgem as mais sinistras e anónimas figuras que a única coisa que pretendem é mais um momento de excitação sexual que aquelas duas mulheres lhes provocam.
Tão estranha como quase macabra, o ambiente recriada por esta curta-metragem tem um universo muito particular que em muito se aproxima do de David Lynch. Não queria utilizar a palavra "entidade" mas esta acaba por ser a que de mais perto se aproxima daqueles espectadores que assistem ao espectáculo que "Bianca" lhes proporciona, e se as analisarmos com alguma precisão facilmente nos relembramos de um ou outro título de Lynch de onde elas poderiam ter facilmente surgido. Pertencem a um universo próprio onde o desejo e a luxúria assumem uma "personalidade" própria que se apodera de todos sem quase os deixar escapar e lançando as duas protagonistas numa qualquer transe onde se assumem elas próprias como dois seres e não como uma mãe e filha. Elas estão lá, seduzem, excitam e excitam-se.
Não se sabe muito bem o que procuram... Apenas sabemos que a sua relação de familiar pouco tem... O amor que em tempos poderiam ter pretendido também já não é mais do que uma miragem difícil de obter, se bem que a "Bianca" ainda se manifesta essa vontade de ser amada, mesmo que para o obter tenha de oferecer o seu corpo, numa vã tentativa de recuperar o tempo que perdeu no passado sem resultados concretos.
Tanto Julie Brémond como Paula Guedes têm aqui fortes e perturbadoras interpretações que se assumem pelo lado negativo como duas almas fortes mas perdidas que já não ambicionam encontrar um rumo. Pelo contrário, elas percebem que já se perderam sem qualquer regresso possível e, como tal, abraçam aquilo que pensam ser a única escapatória a uma vida desiludida, perdida e sem ambições e onde apenas o desejo que sentem provocar aos outros lhes dá a força necessária para encararem o dia seguinte.
Esta curta-metragem feita pela ocasião do aniversário do Festival de Curtas-Metragens de Vila do Conde assume-se, sem qualquer reserva ou entrave, como um trabalho forte, dinâmico e um dos melhores filmes "curtos" feitos neste passado ano e que, não só o arrisco como um dos mais fortes deste festival, como também um dos mais fortes do ano.
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9 / 10
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