Unidade 7 de Alberto Rodríguez foi um dos mais antecipados filmes do Cine Fiesta a decorrer no Cinema São Jorge em Lisboa, e que marcou presença do segundo dia do certame.
Anos antes da abertura da Expo '92 em Sevilha, a cidade assemelhava-se muito de perto com uma cidade à beira de uma explosão social onde o tráfico, a droga e a prostituíção estavam presentes na vida de muitos dos seus cidadãos. As ordens para as autoridades são claras... limpar a cidade de toda a vida paralela para o bom nome internacional da mesma. É então constituída a Unidade 7 composta por quatro distintos agentes da lei: Ángel (Mario Casas), um jovem e ponderado inspector, Rafael (Antonio de la Torre), um solitário e impulsivo polícia preparado para explodir a qualquer momento. Aos dois, que acabam por ser as figuras centrais do grupo não só pela sua posição no mesmo como também pelos seus dramas pessoais igualmente explorados ao longo do filme, juntam-se-lhes Miguel (José Manuel Poga) e Mateo (Joaquín Núñez), dois polícias mais "apagados" no grupo mas que acabam por ser os que mais brutos e insensíveis se tornam.
No entanto, a lidarem diariamente com o crime bem organizado da cidade, irão estes polícias conseguir manter-se de "mãos limpas" enquanto tentam eles próprios limpar a cidade ou, como será expectável, irão cair nas malhas do crime para proveito próprio?
O entusiasmante argumento deste filme, a cargo do próprio Alberto Rodríguez e Rafael Cobos, consegue por diversas ocasiões criar algumas semelhanças com outro intenso título do género como é o caso de Gomorra. Ambos divergem, no entanto, na sua essência pois enquanto o título italiano reflecte essencialmente sobre o submundo do crime organizado, Grupo 7 reflecte sobre a descida ao inferno do crime feito por aqueles de quem menos se espera... a autoridade que está ironicamente encarregada de o combater.
Repleto de intensos segmentos onde são colocados a nu muitos dos estilos de vida de uma população socialmente despriviligiada que assume no tráfico de droga e na prostituíção a única forma de subsistir numa cidade que aparenta ser bem cruel (e já aqui tão perto), este Grupo 7 consegue ainda estabelecer uma interessante relação entre a vida profissional destes homens e as suas vidas pessoais. A forma como abordam o crime e a insensibilidade que daqui resulta em oposição à sua condição enquanto homens de família funciona quase como uma dualidade entre as duas situações que, apesar de distintas, começam com o tempo a denotar semelhanças bastante perigosas.
É também de ressalvar a inversão de papéis dos dois actores protagonistas. Enquanto "Ángel" é um jovem idealista que se quer afirmar na sua profissional não sem que o coração desapareça das suas ponderadas reacções, "Rafael" é um homem duro e quase insensível que se afirma pela força do punho. Com o tempo e as suas vivências pelo submundo de uma Sevilha em transformação, ambos irão ver o outro lado das suas vidas. O primeiro com uma sedenta vontade de alcançar um status e uma vida melhor, deixa-se levar pelos meandros daquilo que combate. O crime escondido, a droga, as redes de prostituíção e os favores começam a dominar a sua vida e, por sua vez, a relação que tem com a família que se degrada com o tempo. Já o segundo estabelece aquilo que lhe falta, se bem que durante pouco tempo... uma relação com outra pessoa. Os afectos, ou a sua vontade e necessidade, despertam emoções e sensações que até à altura desconhecia ou, pior, já esquecera. Despertam-no e dão-lhe uma nova "vida" que já pensara estar perdida. E são estas transformações interiores que acabam por aproximar estes dois homens que inicialmente eram mutuamente indiferentes mas que, também com o tempo, faz nascer entre ambos uma relação de amizade mas também , e principalmente, de respeito mútuo.
E é este mesmo factor que torna um já de si interessante filme, numa história poderosa. A transformação destes dois homens naquilo que qualquer um de nós pode ser a uma dada altura: humanos ou monstros que, pelas mãos de dois actores intensos como aqui demonstram, só poderia dar bom resultado. De Antonio de la Torre já não restavam quaisquer dúvidas pelo conjunto da sua carreira e das intensas interpretações que já tem dado. Forte e determinado ao ponto de quase parecer insensível, de la Torre é verdadeiramente intenso. Mas a verdadeira surpresa chega através da interpretação brilhante de Mario Casas. Habituados que estamos a vê-lo em interpretações mais direccionadas para um público juvenil feminino, aqui Casas demonstra ser capaz de um intenso desempenho que o transporta para domínios bem distantes daquela a que a sua imagem já se havia "colado". É dele que parte a mais significativa transformação enquanto personagem deste filme, e aquela que acaba por ser a que mais ganha (e perde) em todo o processo. Alcança fama, sucesso, uma vida mais desafogada e respeito. Mas também envereda por esquemas ilícitos, tráfico, mediatismo e principalmente muitas invejas que, em última análise, acabam por contribuir para uma ainda mais vertiginosa queda que o faz perder tudo... principalmente aquilo que inicialmente o definia enquanto indivíduo... a sua moral, o seu bom senso mas, acima disso, a sua própria família. Se existiam dúvidas a respeito deste actor... elas estão completamente desfeitas.
Intenso (e logo imperdível), com um ritmo por vezes alucinante e uma dos segmentos mais impressionantes com um cão (sim, verdadeiramente assustador) tem também interpretações bem exploradas e que não me espantaria se fossem nomeadas aos Goya, Grupo 7 é um dos filmes a destacar deste Cine Fiesta e um que as salas de cinema nacionais deveriam ver estrear muito brevemente.
O entusiasmante argumento deste filme, a cargo do próprio Alberto Rodríguez e Rafael Cobos, consegue por diversas ocasiões criar algumas semelhanças com outro intenso título do género como é o caso de Gomorra. Ambos divergem, no entanto, na sua essência pois enquanto o título italiano reflecte essencialmente sobre o submundo do crime organizado, Grupo 7 reflecte sobre a descida ao inferno do crime feito por aqueles de quem menos se espera... a autoridade que está ironicamente encarregada de o combater.
Repleto de intensos segmentos onde são colocados a nu muitos dos estilos de vida de uma população socialmente despriviligiada que assume no tráfico de droga e na prostituíção a única forma de subsistir numa cidade que aparenta ser bem cruel (e já aqui tão perto), este Grupo 7 consegue ainda estabelecer uma interessante relação entre a vida profissional destes homens e as suas vidas pessoais. A forma como abordam o crime e a insensibilidade que daqui resulta em oposição à sua condição enquanto homens de família funciona quase como uma dualidade entre as duas situações que, apesar de distintas, começam com o tempo a denotar semelhanças bastante perigosas.
É também de ressalvar a inversão de papéis dos dois actores protagonistas. Enquanto "Ángel" é um jovem idealista que se quer afirmar na sua profissional não sem que o coração desapareça das suas ponderadas reacções, "Rafael" é um homem duro e quase insensível que se afirma pela força do punho. Com o tempo e as suas vivências pelo submundo de uma Sevilha em transformação, ambos irão ver o outro lado das suas vidas. O primeiro com uma sedenta vontade de alcançar um status e uma vida melhor, deixa-se levar pelos meandros daquilo que combate. O crime escondido, a droga, as redes de prostituíção e os favores começam a dominar a sua vida e, por sua vez, a relação que tem com a família que se degrada com o tempo. Já o segundo estabelece aquilo que lhe falta, se bem que durante pouco tempo... uma relação com outra pessoa. Os afectos, ou a sua vontade e necessidade, despertam emoções e sensações que até à altura desconhecia ou, pior, já esquecera. Despertam-no e dão-lhe uma nova "vida" que já pensara estar perdida. E são estas transformações interiores que acabam por aproximar estes dois homens que inicialmente eram mutuamente indiferentes mas que, também com o tempo, faz nascer entre ambos uma relação de amizade mas também , e principalmente, de respeito mútuo.
E é este mesmo factor que torna um já de si interessante filme, numa história poderosa. A transformação destes dois homens naquilo que qualquer um de nós pode ser a uma dada altura: humanos ou monstros que, pelas mãos de dois actores intensos como aqui demonstram, só poderia dar bom resultado. De Antonio de la Torre já não restavam quaisquer dúvidas pelo conjunto da sua carreira e das intensas interpretações que já tem dado. Forte e determinado ao ponto de quase parecer insensível, de la Torre é verdadeiramente intenso. Mas a verdadeira surpresa chega através da interpretação brilhante de Mario Casas. Habituados que estamos a vê-lo em interpretações mais direccionadas para um público juvenil feminino, aqui Casas demonstra ser capaz de um intenso desempenho que o transporta para domínios bem distantes daquela a que a sua imagem já se havia "colado". É dele que parte a mais significativa transformação enquanto personagem deste filme, e aquela que acaba por ser a que mais ganha (e perde) em todo o processo. Alcança fama, sucesso, uma vida mais desafogada e respeito. Mas também envereda por esquemas ilícitos, tráfico, mediatismo e principalmente muitas invejas que, em última análise, acabam por contribuir para uma ainda mais vertiginosa queda que o faz perder tudo... principalmente aquilo que inicialmente o definia enquanto indivíduo... a sua moral, o seu bom senso mas, acima disso, a sua própria família. Se existiam dúvidas a respeito deste actor... elas estão completamente desfeitas.
Intenso (e logo imperdível), com um ritmo por vezes alucinante e uma dos segmentos mais impressionantes com um cão (sim, verdadeiramente assustador) tem também interpretações bem exploradas e que não me espantaria se fossem nomeadas aos Goya, Grupo 7 é um dos filmes a destacar deste Cine Fiesta e um que as salas de cinema nacionais deveriam ver estrear muito brevemente.
.
9 / 10
..
Sem comentários:
Enviar um comentário