domingo, 11 de novembro de 2012

O Cônsul de Bordéus (2011)

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O Cônsul de Bordéus de Francisco Manso e João Correa é possivelmente o filme português que mais atrasos na sua estreia tem tido e, como tal, um dos mais aguardados. Depois de já ter passado em Israel, Bélgica e França e num festival de cinema do Médio Oriente, só faltava mesmo estrear comercialmente em Portugal. Não poderia ter vindo em melhor altura.
Aristides de Sousa Mendes (Vítor Norte) é o cônsul português na cidade francesa de Bordéus quando as tropas hitlerianas ocupam todo o território do país. Com o cada vez maior número de refugiados na cidade em condições que vão ficando pior a cada dia que passa, estes dirigem-se aos consulados dos países neutrais na esperança de conseguir um visto que lhes permita a entrada nos respectivos países. Portugal é um deles.
Devido à circular 14 emitida por Salazar, os consulados portugueses estão expressamente proibídos de emitir vistos a um diversos número de pessoas, nomeadamente judeus. Aristides de Sousa Mendes irá desafiar essa ordem e emitir o maior número de consulados que puder, nomeadamente a Aaron Apelman (João Monteiro), um jovem rapaz que acabado de chegar à cidade, fugido da Bélgica, se perde da sua irmã.
Muitos anos mais tarde, o jovem Aaron é agora Francisco de Almeida (Manuel de Blas), um reputado maestro que acede a uma entrevista com Alexandra Schmidt (Leonor Seixas) uma repórter muito interessada em saber tudo sobre as suas origens.
A expectativa que criei à volta deste filme era imensa. Só este ano duas foram as ocasiões em que a sua estreia fora anunciada e de seguida adiada. Estranhamente (ou talvez não), parecia que estava realmente condenada a passar novamente o ano sem que este filme conseguisse finalmente ver a luz do dia. Felizmente tal não se passou.
Se por um lado esperava um filme concentrado unica e exclusivamente neste período da vida de Sousa Menses, em que fossem explorados quase à exaustão todos os pequenos grandes detalhes da corajosa acção deste Homem (não esquecer de colocar com H maiúsculo), também não deixa de ser verdade que ao assistir a este filme fiquei surpreso quando são reparei que à História que conhecemos é contada também a história de um jovem que poderia ser qualquer um dos outros refugiados que acorreram àquela cidade durante a guerra.
Quero com isto dizer que este filme não se baseia exclusivamente aos dias de Sousa Mendes enquanto cônsul português que tantos salvou mas dá-lhe também um pequeno relato sobre a vida dramática de um jovem que se encontra sózinho e que encontra naquela figura a sua única esperança. Temos dois lados da mesma História... por um lado o Homem que arrisca a sua vida e a sua carreira em nome de milhares de pessoas anónimas que a ele acorreram como seu salvador e, por outro lado, temos o relato da vida de um desses refugiados. Como a vida de um (que na prática poderia ser qualquer um daqueles milhares de pessoas com histórias mais ou menos semelhantes) influencia a de outro e como este consegue através de um grande gesto Humanitário consegue desafiar não só um governo e um regime como especialmente a própria morte.
Não vou aqui dissertar sobre o grande Homem que Aristides de Sousa Mendes foi pois isso é um facto já consumado, nem tão pouco o vou fazer a respeito do quanto influenciou a minha carreira académica e que faz dele uma das maiores referências Humanitárias que qualquer indivíduo pode ter. Isso são pequenos grandes "detalhes" que apenas dizem respeito a cada um de "nós". No entanto, é inquestionável o facto de que este filme tem uma interessante, e diferente, abordagem à obra e ao legado que este Homem deixou para o Mundo independentemente do lado da fronteira em que cada um se encontre pois estas mais não são do que linhas imaginárias (e imaginadas) ao sabor das conquistas, das guerras e dos caprichos de homens que pouco se importaram com o bem dos Homens.
Francisco Manso, aqui em colaboração com João Correa, tem sido ímpar na divulgação de grandes feitos, tantas vezes esquecidos ou pouco "interessantes" para serem revelados, da nossa História. Assim foi com o seu filme O Último Condenado à Morte ou Assalto ao Santa Maria. Aqui destaca-se um dos feitos mais importantes da nossa História recente e que é ainda, infelizmente, pouco divulgada. Até há bem pouco tempo pouco se sabia da vida deste Homem que salvou o Mundo ("quem salva uma vida salva o Mundo"), e nos últimos anos esta tem sido um pouco mais divulgada.
E é aqui que acaba por residir, para mim, o ponto mais fraco deste filme. Se por um lado consegue unir duas histórias, a real de Sousa Mendes e a ficcionada de Aaron, acaba por não dar o devido destaque à primeira relatando detalhadamente como esperava os feitos do Cônsul. Os seus dramas pessoais/profissionais bem como a sua atribulada vida familiar e, mais tarde, já em Portugal o seu próprio drama Humano que esse muitos ainda ignoram.
Não que não seja interessante esta abordagem em que reflectimos sobre como as acções de UM conseguem influenciar determinantemente a vida de OUTRO, pois assim conseguimos ver e deduzir que esta representa tantas outras histórias e dramas pessoais, mas não deixa de ser também verdade que esperava ter mais de Sousa Mendes... de ter um filme unica e exclusivamente baseado nele, especialmente se pensarmos no drama que viveu já em Portugal e que esse permanece ainda hoje esquecido por uns e ignorado por outros.
Tecnicamente interessante e com uma história que consegue não ser ser emotiva como fascinante, Francisco Manso volta a acertar na receita de apostar na História de Portugal, agora num acontecimento mais recente, e numa época quase perfeita para apostar na estreia deste filme pois novamente esta Europa volta a atravessar um período obscuro e cheio de incertezas onde as semelhanças com o passado são já constantes.
Apesar de lhe faltar um "bocadinho", que teria sido conseguido se apostasse mais na história de vida de Sousa Mendes... está perto de ser perfeito e um digno filme da época em questão.
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8 / 10
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