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Tenho Ganas de Ti de Fernando González Molina foi mais um dos títulos presentes nesta edição do Cine Fiesta de Lisboa, numa sessão que se pode dizer ter sido bem concorrida.
Com alguns dos jovens nomes do cinema espanhol, este filme conta-nos a história de Hache (Mario Casas), um jovem que após se ter afastado da família, dos amigos e principalmente do seu passado e amores, regressa de Londres com o intuito de reconstruir a sua vida. No entanto, mesmo não esquecendo Babi (María Valverde) o seu primeiro amor, conhece Gin (Clara Lago) que restabelece a ideia de que é possível voltar a amar.
Por entre encontros e desencontros com um passado que ressuscita para ser resolvido, a questão que se coloca a Hache é se o seu novo amor será suficientemente forte para esquecer aquilo que não havia terminado ou se, no entanto, esse passado é forte demais para poder ser definitivamente esquecido.
O argumento de Ramón Salazar transforma este filme, por diversas ocasiões, num típico filme de adolescentes esquecendo que aquilo que está por detrás da história de cada umas das diferentes personagens são dramas internos com os quais se poderiam identificar tantos espectadores. A morte, os amores por concretizar, a doença, a inveja, o desejo e até mesmo a representação de um insensível mundo profissional onde apenas e só o lucro é valorizado e bem recebido são alguns dos temas por detrás de cada uma das personagens. Não se perde o impacto que cada um destes momentos é suposto representar mas, no entanto, percebe-se que o impacto dramático que é suposto ser transmitido para o público se torna mais "brando".
Exemplo disto está a pouco explorada, ou coerente, relação entre algumas das personagens centrais deste filme nomeadamente entre "Hache" e "Pollo" (Álvaro Cervantes) o seu falecido amigo, bem como com a sua mãe (Carme Elias). Sabemos que a morte do amigo veio afectar as relações dentro de todo o grupo de amigos, mas nunca nos chega a ser explicado o porquê de ter destruído toda a união entre eles ao ponto de causar sérias rupturas nos casais perfeitos ou mesmo o afastamento de "Hache" para Londres durante vários anos. Percebemos que a morte pode arrasar com a vida de qualquer pessoa por ser uma mudança radical que normalmente apanha todos os envolvidos sem qualquer tipo de aviso mas, no entanto, custa a perceber o porquê de um afastamento e consequente silêncio que quase parece ser irremediável.
Felizmente o ritmo a que o filme nos habitua desde cedo faz com que estes momentos sejam breves e que se recupere rapidamente a garra que ele parece ter e querer despertar. O ressurgimento do amor através de "Gin" (Clara Lago), uma surpreendentemente enérgica rapariga que está disposta a partilhar a sua vida com "Hache", bem como o retomar das suas velhas amizades e de uma vida mais próxima daqueles com quem pode partilhar os seus dias, conseguem de uma forma interessante e bem-disposta dar uma energia positiva ao filme.
E há que fazer justiça e dizer que também muita desta energia se deve ao par Mario Casas e Clara Lago que conseguem ter uma quase ininterrupta química entre si que suporta praticamente todo o filme. Desde o seu acidental encontro que os une, passando pelos momentos mais complicados ou separação, percebemos facilmente que o filme só irá aguentar se ambos terminarem juntos no final (ver para saber se é o que realmente acontece), e damos por nós a apostar e desejar que seja isso que aconteça. A química existe, está lá bem vincada e peceptível para qualquer um de nós por mais distraído que aparente ser. Esta dupla, que acabou por estar presente em vários filmes do Cine Fiesta, resultou e afirma-se como um dos pares românticos do cinema espanhol e também dois dos actores mais presentes do mesmo com uma crescente participação em vários filmes de nuestros hermanos.
No meio de algumas falhas mas com uma vontade de o tornar um filme desejado pelo público e com um ritmo definitivamente comercial e moderno sentido não só pela sua história como também pela presença de um conjunto de actores que funciona bem entre si e com os quais o público mais jovem se identifica como também através de uma banda-sonora intensa e bem ritmada da autoria de Manel Santisteban, Tengo Ganas de Ti resulta e agrada ao público de uma forma geral. Não é um "feel-good movie", mas todos nós ficamos agradados por perceber que no final, apesar dos vários problemas, há sempre a hipótese de tudo terminar bem pois apesar de muitos já não acreditarem... o amor ainda costuma vencer.
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7 / 10
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