domingo, 3 de junho de 2018

Alone Time (2013)

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Alone Time de Rod Blackhurst (EUA) é uma curta-metragem de ficção baseada em factos verídicos que revela um breve momento na vida de Ann (Rose Hemingway), uma jovem mulher saturada da sua agitada existência em Nova York e que decide retirar uns dias na floresta. Encantada por poder relaxar e tirar algumas horas de prazer junto da natureza, estará Ann assim tão solitária quanto a vida que deixará para trás?
O realizador e David Ebeltoft deixam com esta obra um marco do terror moderno ao qual o espectador está incapaz de fugir pela sua intensa dinâmica de inevitabilidade face aos comportamentos sociais de um mundo moderno que não só não se controlam como podem facilmente ganhar proporções que estão para lá do controlo de cada um de nós. Por outras palavras, quando é que uma vida vivida no meio de toda uma constante agitação diária deixa, realmente, de ser vigiada? E, dentro desta suspeita do controlo alheio sobre os nossos próprios comportamentos... até que momento está cada um de nós livre dos olhares mais ou menos indiscretos dos infindáveis anónimos com quem nos cruzamos diariamente?
Partindo desta premissa encontramos "Ann", uma jovem mulher saturada das rotinas e das obrigatoriedades diárias que a deixam assoberbada e entregue a um incapacidade de fugir à tal rotina que a condiciona em todos os seus desejos... Afinal, alguém havia confirmado que a tal vida "adulta" iria ser assim tão aborrecida? Ao acompanharmos a sua rotina, compreendemos que a sua realidade é banal e desinteressante... comportamentos sociais vividos num perfeito anonimato e uma quase inexistância de amigos condicionam-na a uma vida em que o trabalho é o mais real substituto de qualquer contacto humano - per si -, e os poucos momentos que percebemos - sem nunca os confirmar - em que poderá existir vida para lá das quatro paredes do escritório ou até da sua casa, são rapidamente substituídos pela sua crescente vontade de viver uma aventura... sózinha. No entanto, até que ponto algo ou alguém não a estará a seguir da cidade para a floresta? Sob que realidade estará ela realmente sózinha considerando que as provas de que na cidade é observada por alguém que a persegue incansavelmente e que, também ali, poderá estar a ser silenciosamente perseguida?
Alone Time é assim a lenta constatação de que quer no campo quer na cidade, "Ann" é o rosto de um conjunto de vidas vividas num semi-anonimato apenas interrompido por breves momentos ou situações nas quais poucos - se é que alguns! - a conhecem de facto e que podem testemunhar, com segurança, a sua existência. Assim, e dominando o seu destino (assim o pensa), "Ann" tentará viver uma nova experiência confiante na sua segurança e que apenas será abalada no momento em que percebe que a sua solidão é, afinal, vivida na companhia de alguém que desconhece mas que a conhece melhor do que ela poderia imaginar de alguém que partilhasse todos os seus momentos in loco. "Ann" é então ensombrada com a realidade de que existe mais alguém na sua vida... mas alguém que conscientemente nunca viu... alguém que conhece os seus hábitos, os seus locais, os seus momentos e instantes e sobretudo que a acompanha a todo o momento. Desta forma, o verdadeiro terror não chega sob uma qualquer forma sobrenatural mas sim pela imediata percepção de que existe (mais) alguém a seu lado para lá dos inúmeros anónimos - ainda que não deixe de o ser - que a capta na sua mais intensa vulnerabilidade sem nunca se fazer anunciar.
Ainda que Rose Hemingway tenha uma sólida interpretação enquanto uma jovem mulher "perdida" na grande cidade, é o argumento da dupla Blackhurst e Ebeltoft que prende o espectador a um imaginário de mundo globalizado - que é pequeno - e à compreensão daqueles pequenos grandes indícios que revelam que existe mais para lá do óbvio mas ao qual, na realidade, poucos de nós prestam atenção e principalmente que neste mundo moderno onde a solidão é o modus vivendi das grandes cidades, o perigo espreita do mais inesperado local pelo momento certo para se fazer notar destruindo todas as convicções que qualquer um de nós tem sobre o seu ideal de segurança.
Centrado no seu próprio passo mas intenso pela dinâmica em que revela o seu lado mais negro, Alone Time é sem sombra de dúvida um daqueles filmes curtos que o espectador não irá esquecer pela sua assustadora realidade e intimidante presença.
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7 / 10
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