quinta-feira, 28 de junho de 2018

Indivisible (2017)

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"Dreamers", Sem Direitos e Sem Família de Hilary Linder (EUA/Brasil/Colômbia/México) é um documentário que se centra na dinâmica das gerações de jovens que chegados aos Estados Unidos ilegalmente acompanhados pelos seus pais e demais família estão, neste momento, afastados dos mesmos após a sua deportação para os seus países de origem. Num processo de luta constante para que o seu estatuto seja regularizado no país que hoje já consideram seu como também numa forma de poder fazer regressar os seus familiares agora distantes, este documentário revela toda a acção de um grupo de jovens preso num limbo institucional que os faz sentir apátridas... nem do país que hoje chamam de seu... nem daquele de onde um dia partiram.
Num olhar pertinente e oscilante entre o jogo legal que estes jovens associados numa organização de defesa dos seus direitos encetam e aqueles momentos de drama pessoal em que o espectador conhece as suas realidades desde a chegada a um país com uma língua diferente, os seus sonhos e ilusões de criança, a sua entrada na escola e sucessiva formação académica sem esquecer que a junção de todos estes elementos contribuiu de forma decisiva para que o seu país natal mais não fosse do que uma miragem, Indivisible capta com uma seriedade desarmante todo um drama vivido numa solidão constante onde, mesmo na companhia dos seus semelhantes, se sente que todos eles pertencem a um limbo legal e institucional que os afasta de uma vida vivida em pleno.
Em Indivisible encontramos então estes jovens que sonham com a sua situação legalizada nos Estados Unidos de forma a poderem estudar, trabalhar e não recear uma sempre presente possibilidade de deportação e, por outro lado, a incapacidade e inactividade de quem governa em resolver definitivamente esta situação. Sem que se cumpram os seus sonhos, ambições, desejos e uma reunião familiar definitiva, o espectador assiste também ao seu instável regresso - enquanto "turistas" - a um país que já não consideram seu (seja ele o México, o Brasil ou a Colômbia dos três protagonistas do documentário), e em todas as situações com que se deparam no país de origem o espectador não encontra nos seus rostos ou comportamentos uma qualquer identificação ou compreensão de rituais ou momentos que, na realidade, nunca fizeram parte do seu imaginário ou quotidiano. Perdidos entre origem e destino, entre duas línguas, duas famílias - a sua e a que foram obrigados a "encontrar" para não serem seres totalmente solitários no país que os "acolheu" -, todos estes jovens encontram as suas vidas adiadas e por cumprir num processo legal que se arrasta e (à data de hoje) se encontra cada vez mais complicado e turbulento... novamente por questões legais e políticas.
Dos momentos emocionantes dos seus relatos e da caracterização das suas vidas àqueles em que reencontram as suas mães junto ao muro da vergonha na fronteira com o México ou mesmo no regresso aos seus países, Indivisible prima pela capacidade de transmitir ao espectador aquele sentimento de impotência ao encontrar famílias divididas e desfeitas separadas por uma barreira de ferro impossibilitando a convivência saudável e natural de famílias, incapacitando-as de progredir, evoluir e transformar-se naturalmente e demarcando territórios que (naturalmente) não têm quaisquer separações. Intenso, emotivo, pertinente, actual e até mesmo revoltante ao ponto de indignar o espectador, Indivisible é o documentário que fazia falta para compreender o lado humano que está para lá de qualquer definição política que possa "explicar" esta questão central da actualidade dos Estados Unidos da América.
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8 / 10
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