domingo, 3 de junho de 2018

Zombiehagen (2014)

.
Zombiehagen de Jonas Ussing (Dinamarca) é uma curta-metragem de terror centrada na ocupação de Copenhague pelos mortos-vivos.
Uma rapariga (Simone Lykke), percorre as ruas da capital até chegar a uma praça onde estão centenas de pedidos de ajuda e de notícias sobre os desaparecidos. Um rapaz (Casper Sloth) que chega ao mesmo local minutos depois. Os dois cruzam-se no estádio da cidade onde ela tenta encontrar o namorado. Poderão eles os dois ser os últimos sobreviventes que ali se encontram e os responsáveis pela continuação da Humanidade?
O realizador e argumentista Jonas Ussing entrega ao espectador uma das inúmeras histórias de mortos-vivos (ou zombies) aqui num cenário urbano e Europeu que contrariando o tradicional rural norte-americano, insere o espectador num espaço que fora - em tempos - densamente povoado e agora mais não é do que uma miragem desse passado. Mas, se nesse espaço rural os mortos parece que abundam pelas ruas, em Zombiehagen - uma Copenhague literalmente mortificada - as ruas parecem desprovidas de qualquer forma de "vida" (ironicamente falando), conferindo a toda esta curta-metragem uma certa sensação de que para lá do perigo de um qualquer ataque, é aquele que se prende com a solidão que ameaça os nossos protagonistas.
Assim, e para lá da dinâmica de perigo que está instalada, é aquela que se prende com a relação dos dois protagonistas que fica sob atenção do espectador que deseja ver na relação de ambos uma qualquer salvação para aquilo que poderá restar dessa Humanidade agora semi desaparecida. O encontro entre "Ela" e "Ele" - provocado pela personagem interpretada por Casper Sloth - deve-se, pensa o espectador, por uma necessidade extrema de se poder estabelecer uma nova relação numa cidade que está literalmente perdida. Assim, o segmento dentro do estádio da cidade repleto daqueles poucos que ainda caminham mas que já não têm qualquer réstia de vida, impressiona não só pela magnitude do espaço e da dinâmica ensombrada por uma direcção de fotografia de Andrew Grant-Christensen que lhe confere todo uma atmosfera de morte, mas principalmente pela esperança depositada naquelas duas pessoas cujo encontro mais ou menos casual faz adivinhar todo um novo começo.
Saídos das ruas da cidade e agora dentro da casa d'"Ele", Zombiehagen revela os trágicos passados desta personagem masculina e um vislumbre do seu desejo em poder voltar a ter companhia depois da trágica morte da mãe da qual o próprio se responsabiliza. Mas poderão estar os propósitos deste jovem corrompidos de alguma forma? Se a sua rápida intervenção junto d'"Ela" se revelou crucial para que a mesma fosse salva, é um pequeno e muito súbtil detalhe que deixa o alarme instalado e são os breves mas intensos momentos finais que revelam que de facto, num momento de crise extrema, nada é como parece... ou pelo menos... nada é como aquilo que se poderia fazer esperar.
Original pelo seu desfecho que revela que a Humanidade está perdida não necessariamente pela catástrofe mas sim pela desgraça em querer sobreviver mantendo os parâmetros e ideais de uma vida que já não é, Zombiehagen é uma curta-metragem atípica pela sua concepção fora dos locais tradicionais que o espectador tão bem conhece e, como tal, um ponto que joga a seu favor e, apesar de recorrer a todo um conjunto de elementos que, de certa forma, o espectador já conhece, consegue vencer pela forma como se livra dos lugares comuns do género surpreendendo com um desfecho não só inesperado como mortalmente inspirador para aqueles que julgam que a perda determina a capacidade de cada um avançar mais além do esperado. Porque por vezes a morte faz laços tão ou mais fortes do que a própria vida.
.

.
7 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário