domingo, 3 de junho de 2018

The Surface (2015)

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The Surface de Willem Kampenhout (EUA) é uma curta-metragem centrada num cenário pós-apocalíptico onde a Humanidade reside no subsolo escondida de uma nova espécie robótica que povoa o que restou das cidades como as conhecíamos.
Liz (Liz Christensen) tem de arriscar tanto a sua vida como a sua segurança para salvar a vida do filho, aventurando-se na superfície onde os monstros espreitam pelo mínimo deslize depois de terem forçado a Humanidade para os subterrâneos das antigas cidades.
Também autor do argumento, o realizador Willem Kampenhout cria uma história centrada num mundo diferente daquele que conhecemos não através da dinâmica humana onde a solidariedade e compreensão parecem cada vez mais escassas quer pela força do lucro quer pela escassez de bens essenciais que, na realidade, ninguém aparenta ter, mas sim pela percepção (do espectador) que o mundo tal como o conhecera já não existe. No entanto, as necessidades para uma constante sobrevivência... não cessam. É então que começa a aventura por um espaço (des)conhecido - dependendo se se é espectador ou personagem desta história -, lançando-se "Liz" - protagonista - numa perigosa viagem pelo mundo tal como fora tentando dessa forma encontrar uma forma de sobrevivência e subsistência para o seu filho que... precisa de uma diferente fonte de alimentação.
Nestas histórias o elemento predominante é que a Humanidade, ou o que dela resta, já não é aquilo que conhecemos. O mundo destruiu-se e a população teve de encontrar refúgio longe da pouca luz solar que ainda resiste e da sociedade tal como anteriormente a idealizara. No subsolo - parco em elementos que garantam essa sobrevivência - a sociedade é marginal, indiferente e indiferenciada e uma réstia daquilo que em tempos fora limitando-se cada um a conseguir ver o dia seguinte da melhor forma possível. A sobrevivência (a existir) é garantida então pelos poucos aventureiros que se lançam numa caminhada pela superfície habitada por aqueles que chamam de "monstros"... seres humanoides robotizados que se alimentam das mesmas baterias que alguns dos "humanos"... lá em baixo. Assim, e num universo onde todos aprenderam a temer-se e odiar-se, The Surface acaba por transformar-se num relato onde a sobrevivência se define nas margens da confiança (perdida) do antigamente, ou seja, até que ponto poderá existir um novo amanhã quando todos aprenderam (com os erros do passado), a temer a diferença e a outra espécie como a causadora do mal próprio quando, na realidade, todos haviam contribuído para o mal de alguém nesse antigamente agora tão distante.
Os mitos e lendas urbanas de um mundo destruído são assim a principal barreira para que a sociedade e a comunidade diversa e diversificada que habita os dois lados desta nova realidade possa dar o passo em frente para a sua própria regeneração, e apenas a extrema confiança no"outro" por parte daqueles que estão numa situação limite poderá ser esse momento transformador para todos. Apenas quando se compreende a "perda" como uma realidade, poderá esta confiança subsistir. Assim, e numa interessante e não tão bacoca analogia com o nosso presente, poderá o espectador compreender que as ânsias, receios, expectativas e vontade de sobreviver em todos os lugares de um mundo que já não é assim tão distante como se pensa, são idênticas e alimentam-se das mesmas necessidades. Para lá dos lugares comuns... será a vontade de viver tão diferente no local em que o espectador está daquela que outros no extremo oposto do mesmo mundo sente?
Para lá das diferenças é a necessidade de sobreviver e ver o novo amanhã que todos une. É a compreensão de que sózinho nunca se conseguirá sobreviver e que apenas na comunhão de esforços e na noção de que todos somos iguais independentemente das diferenças que o primeiro olhar expõe se obterá a reconstrução do espaço destruído (o que pressupõe futuramente a sua partilha), na qual este The Surface faz centrar a sua principal mensagem, impondo de forma ficcionada a noção de que as diferenças não são assim tão evidentes em espécies supostamente distintas revelando que entre Humanos e Humanoides... as necessidades de energia centram-se nos mesmos elementos.
Ainda que presente na dinâmica habitual das histórias do mesmo género, The Surface distingue-se por uma interessante dinâmica de espaço - urbano e cosmopolita -, e por uma bem sucedida caracterização dos actores que os embrenha na dinâmica de pós-apocalipse ou de um mundo perdido na própria imagem de um passado que já não existe.
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7 / 10
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