domingo, 25 de abril de 2010

Julgamento (2007)

Julgamento de Leonel Vieira é um muito bem conseguido filme que conta com muito boas interpretações por parte de alguns actores portugueses nomeadamente Júlio César, Henrique Viana, José Eduardo, Alexandra Lencastre, Fernanda Serrano e Carlos Santos.

Em período pré 25 de Abril de 1974, quatro amigos são detidos pela PIDE pelos quais são torturados sendo que um deles acaba por morrer. Trinta anos depois a filha de um deles (Serrano) defende em tribunal o torturador da PIDE (Santos) e é reconhecido pelos amigos que ficaram com inúmeros problemas desde essa altura César, Eduardo e Viana).

Sem nada revelarem à advogada, os três combinam com raptar o PIDE que está agora sob outra identidade de forma a retirarem dele toda a verdade e o confrontarem com a filha do falecido (Lencastre).

Durante este rapto e consequente cativeiro tudo toma proporções mais dramáticas que claro não irei revelar mas confesso serem muito fortes e dinâmicas principalmente por parte das interpretações dos actores que como disse anteriormente são de facto muito boas.

Se o elenco no seu geral está muito coeso e forte, é no entanto imperativo destacar as interpretações de Carlos Santos e de José Eduardo. O primeiro, bom como sempre em todo e qualquer papel que interprete, consegue aqui por breves, muito breves, momentos instaurar a dúvida se será ele ou não o verdadeiro Mendes Oliveira que torturou o grupo de amigos mais de trinta anos antes. Chegamos a ter pena da sua personagem que pode afinal ser apenas uma vítima de um equívoco. Passados esses instantes, começamos a desconfiar.. as suas atitudes são cada vez mais sombrias e mostram pequenos indícios daquilo que ele poderá ser. Finalmente, quando se revela, aqui sim temos a verdadeira pessoa e o verdadeiro mal que encarna, e Carlos Santos entrega uma excelente e brutal interpretação como a verdadeira encarnação do próprio mal.

Com percurso igual temos Miguel, personagem interpretada pelo também fantástico José Eduardo, vencedor do Prémio GDA de Melhor Actor Secundário, que inicialmente nos entrega uma prestação contida de um homem vítima do seu passado e com problemas de afectividade emocional que vive um casamento desfeito e que com o desenrolar da acção utiliza o cativeiro do seu agressor para nele descarregar todos os recalcamentos que a sua tortura lhe causaram. Soberbo é a única palavra que tenho para descrever o trabalho deste actor que aqui em muito me surpreendeu.
No geral é um filme de boas interpretações que possuem um forte conteúdo e uma coesão extraordinária entre todos, mas estas duas são sem sombra de dúvida as mais centrais para toda a dinâmica dramática do filme. Dignas de, se Portugal tivesse uma Academia de Cinema que premiasse todos os seus profissionais, receberem prémios pelas suas fantásticas interpretações.
Um aplauso também para o trabalho de fotografia da autoria de José António Loureiro que torna os momentos de cativeiro do ex-PIDE em sequências verdadeiramente assombrosas e também para os cenários desérticos criados para criar toda a sequência desse mesmo cativeiro.
Destaque ainda para as participações secundárias de actores como André Gago, Manuel Marques e Simone de Oliveira que conseguem abrilhantar um pouco mais este que é na minha opinião um dos filmes maiores do cinema português dos últimos anos. Brilhantemente realizado e com interpretações superiores pelo conjunto de actores, é daqueles filmes que não se devem perder.



8 / 10

2 comentários:

  1. um pouco estático, sem dinamismo, característica típica do cinema português...mas prima pelo suspense, a capacidade interpretação dos nossos actores, entre outros....na escala de 1 a 20, arriscaria atribuir um 16, pelo cenarios, interpretaçoes, guião, etc....vamos continuar, portugueses, vamos provar que nem só a acção e efeitos especiais dos americanos conseguem sentar pessoas numa cadeira durante hora e meia!!!!

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  2. Totalmente de acordo. Acho que o cinema português dos últimos anos, apesar dos seus toques característicos, tem vindo a melhor bastante de qualidade e felizmente este filme é disso exemplo. Muito bom principalmente em termos interpretativos.

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