Desgraça de Steve Jacobs é um filme passado no regime pós-Apartheid da África do Sul que conta com John Malkovich no principal papel.
Malkovich interpreta o papel de David Lurie, um professor universitário desencantado, descontente e cínico que vê um mundo decadente em tudo o que o rodeia. Um dia sente uma enorme atracção física e sexual por uma sua aluna que começa a seduzir e que acaba por drogar e violar.
O escândalo percorre toda a comunidade local e David é obrigado a uma comissão de inquérito na qual admite ter cometido o crime. Muito ao estilo das comissões de verdade existentes no pós-Apartheid, nenhuma consequência de maior ou criminalização do seu acto existe. Há excessão da sua própria demissão do cargo, nada mais acontece e assim abandona a cidade rumo à casa da sua filha que vive isolada de tudo e todos.
É lá que espera encontrar a sua redenção e sossego. E encontra-os até ao dia em que três habitantes locais entram na casa de ambos e o prendem acabando por violar a sua filha que mais tarde vimos a saber ficar grávida fruto deste encontro.
Temos então aqui um interessante filme sobre a África do Sul onde, não focando o Apartheid per si, dá-nos uma ilustração de como se encontra a nova sociedade sul-africana onde o topo da pirâmide deixou de existir como até então se apresentava como uma realidade. Agora já não existe uma população branca dominante em cima mas sim uma mistura de ambos.
Os crimes são mostrados tanto cometidos por uma suposta classe mais alta como por aqueles que se encontram na sua base. São tão violentos uns como outros. Assim sendo porquê penalizar um e não o outro? Afinal neste caso concreto tanto David como o violador da sua filha cometeram no fundo o mesmo crime. Qual a diferença que separa um do outro? A cor? O status social? Factores estes que com a queda do regime do Apartheid deixaram de ser relevantes colocando todos no mesmo país ao mesmo nível perante a lei.
Temos então um interessante retrato do que é a África do Sul actual que procura encontrar um lugar muito próprio, bem como de uma sociedade que parece não ter limites ou leis nem ordem nem segurança e que permanece algures entre o caos e a realidade muito ao sabor daquilo que cada um pensa (ou sabe) poder fazer.
John Malkovich muito igual a si próprio e ao potencial a que já nos habituou trabalha muito bem esta personagem que passa de um lugar cimeiro para o mais profundo da decadência conformando-se finalmente com aquilo, pouco, que pode ter... O nada. Apenas um muro... um pequeno muro que tanto pode ser físico como imaginário (auto-separação social), o pode separar de toda uma realidade que pode simplesmente esperar muito pacientemente pelo próximo momento em que qualquer um se encontre mais vulnerável.
7 / 10
Sem comentários:
Enviar um comentário