O Meu Nome é Joe de Ken Loach que conta com uma soberba prestação vencedora do Prémio de Melhor Actor em Cannes por parte de Peter Mullan.
Joe (Mullan) é um alcoólico recuperado que assiste a jovens problemáticos e desempregados a darem um novo rumo às suas vidas sem, no entanto, conseguir encontrá-lo para si próprio.
Tudo muda no dia em que conhece Sarah (Louise Goodall) uma assistente social que também lida com os mesmos jovens que Joe, e por quem este acaba por se apaixonar vendo nela uma segunda hipótese para restabelecer a sua vida e ter o que até então não conseguiu... uma família.
Pelos meandros do crime urbano numa cidade que mais aparenta ser um dormitório decadente onde a grande maioria das pessoas (sobre)vive da assistência social, Joe através de pequenos encontros desportivos e Sarah através daquilo que o próprio Estado pressupõe, tentam salvar essas jovens vidas que muito ainda poderão dar a si próprias, ao mesmo tempo que neles desperta o próprio sentimento de tentarem eles também salvarem-se e encontrarem os seus portos de abrigo.
Francamente merecido foi o prémio que Peter Mullan recebeu em Cannes pois a sua interpretação é de um realismo estrondoso que foca não só a recuperação de um homem desprotegido na sociedade como também o seu retorno ao caos e ao abismo do qual se tenta afastar. É sofrido e penoso e do brilho que apresenta inicialmente conseguimos assistir à transformação de um homem que começa a procura do seu próprio espaço numa potencial família a construir para um homem que se deixa novamente levar pelos caminhos do alcoól, da amargura e da perda de um dos seus nos meandros do crime e do tráfico.
Como todos os filmes de Ken Loach... bom... a maioria deles pelo menos, também este apresenta uma personagem principal isolada, só e com um passado conturbado que tenta a recuperação e o reingresso na sociedade que ele próprio abandonou. Procura o seu espaço e aqueles em quem se apoiar para poder viver a sua própria vida. Peter Mullan foi de facto a escolha ideal para dar vida a esta personagem complexa e rica na sua própria fúria interior. A sua vontade de resistir e de poder influenciar outros que, tal como ele, se encontram em situações mais precárias e de risco. A força, a verdadeira força que Mullan apresenta com o seu olhar ora frágil ora a transbordar de energia são sem qualquer dúvida contagiantes.
Excelente filme que retrata não só a capacidade das emoções humanas serem ora reprimidas ora despertas com pequenos grandes factores (ou pessoas) com que a nossa vida se cruza ou depara mas que, ao mesmo tempo, podem despertar velhas feridas e angústias que no nosso subconsciente estão também lá sempre presentes.
Um retrato fiel da tentativa e da possibilidade que todos procuram de se recuperar e encontrar um lugar em sociedade e junto de alguém com quem poder estabelecer uma vida e também da desilusão de sonhos pretendidos e nunca alcançados que residem naqueles pequenas grandes cidades que se encontram tão perto e tão longe de todos os sonhos que sempre esperámos alcançar.
Para os mais curiosos existe sempre disponível o trailer que poderão visionar aqui.
8 / 10
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