"Le temps détruit tout" foi assim que o filme Irréversible de Gaspar Noé se publicitou. E bem! Antes de o ver de tudo ouvi desde ser um "filme do demónio" (que seria isso?!) até dezenas de pessoas terem abandonado a sala durante a sua exibição em Cannes. Para mim não foi nada mais do que uma excelente campanha publicitária para um filme excelente..
Da história nada vou adiantar pois sei que muitos daqueles que lêem este blog não viram ainda o filme e como tal não quero de forma alguma estragar a surpresa. No entanto a única coisa que vou adiantar é que se preparem pois vão ver o filme... a partir do seu fim. É verdade... As primeiras imagens que vos vão passar pelos olhos são o final do filme e por aí em frente... ou melhor... e daí para trás... ou seja, o filme acaba no seu início. Confuso ? Não é! Quando o começarem a ver percebem logo.
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Este é sem qualquer sombra de dúvida um dos aspectos mais inovadores que este filme trouxe aos meus olhos, e é também esse um dos factores que o faz ser tão bom. Em vez de vermos os factores que irão causar o decadência das pessoas... começamos logo por ver o que acontece e só depois os porquês!
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Os piores momentos do filme, não no sentido de serem maus mas de serem perturbantes e violentos começam quase no início do filme até à situação do tunel de passagem de peões... O que por lá se passa não revelo claro, mas preparem-se para 12 minutos bem agonizantes.
Uma fotografia também ela excelente sempre em tons escuros e violentos. A utilização do preto e do vermelho é aqui regra quase seguida à risca, o que resulta a meu ver muito bem para manter a carga pesada e extremamente violenta que o filme quer transmitir.
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Sem me querer repetir nesta temática mas a banda sonora carregada de sons pesados, alguns mórbidos, e que irritam o sistema nervoso de qualquer um só sobrecarregam o já por si muito pesado ambiente do filme transformando-o a cada momento mais enervante e desconcertante.
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No que às interpretações diz respeito só há que dar um aplauso de pé aos três actores principais. Albert Dupontel tem o papel mais contido ao longo do filme (menos no início que é suposto ser o final) e de todos o mais moderado. Vincent Cassel o mais louco e entusiasta por tudo o que é viver bem e rápido (um pouco menos no início... que como sabem... é suposto ser o final). E como já seria de esperar Monica Bellucci é a força deste filme, é por ela que tudo muda. É por ela que o tempo tudo destrói. É por ela que o tempo reconstrói. Os actores fazem um trio consistente e convincente nos seus papéis. É certo que não teríamos nenhum deles alguma vez a serem nomeados a um Oscar num filme destes e é se calhar por isso mesmo que são daquelas interpretações onde de facto o mereceriam.
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Se é preciso ter algum estômago para ver este filme... confesso que sim... não é fácil de digerir e existem situações francamente revoltantes, mas para aqueles que aguentam bem o stress e o mal-estar este é o filme perfeito para se ver. E se depois do Malèna ainda tinham dúvidas que a Bellucci fazia BOM cinema... espero que depois deste tenham abandonado esse ideia de vez. Afinal... o tempo destrói tudo.
"Philippe: Time destroys everything."
10 / 10
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