domingo, 11 de setembro de 2016

Bølgen (2015)

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Alerta Tsunami de Roar Uthaug é uma longa-metragem norueguesa - e seleccionado pelo país para representar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro nos Oscars em 2016 - presente na secção Serviço de Quarto desta décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, que hoje termina no Cinema São Jorge.
Kristian (Kristoffer Joner) está prestes a abandonar o seu trabalho na pequena cidade de Geiranger quando detecta pequenas alterações geológicas no subsolo da região. Quando o impensável acontece colocando em risco toda a população da região, Kristian tem apenas dez minutos para salvar todos incluindo a sua própria família.
Tendo como premissa o deslizamento de terras que deu origem a um tsunami numa aldeia norueguesa na década de 30, Roar Uthaug cria aquele que poderá ser o primeiro filme catástrofe do cinema nórdico colocando o argumento de John Kare Raake e Harald Rosenlow-Eeg nos limites de uma intensa história de sobrevivência que fará invejar muitos dos filmes do género que a cinematografia norte-americana tão hábil e frequentemente apresenta.
Com uma introdução fundamentada em imagens de arquivo que apresentam o rasto de destruição anteriormente sentido na região onde o deslizamento de terras nos fjords criou verdadeiros tsunamis que arrasaram a paisagem tal como fora conhecida, Bølgen teoriza, à luz dos dias modernos, o que aconteceria se uma nova catástrofe ocorresse numa pequena localidade do país como aquela que o espectador conhece onde a agitação diária apenas se prende com as vagas de turistas que se deslocam para dar vida ao pequeno recanto na montanha.
De um primeiro segmento no qual ficamos a conhecer a relação familiar entre "Kristian" e "Idun" (Ane Dahl Torp), e destes para com os dois filhos de onde se depreende que o casal vida os seus normais problemas conjugais que são, de uma ou outra forma, sentidos pelos filhos, Bølgen concentra todo este momento naquilo que culmina com um espantoso e bem encenado tsunami - um viva aos elaborados efeitos especiais - eventualmente pouco visto no cinema europeu (se nos esquecermos de Lo Imposible de Juan Antonio Bayona) que não só deixa o esperado rasto de destruição como também o igualmente esperado conflito onde, família separada... que passo dar em seguida?
Num registo bem mais activo do que aquele sentido em Lo Imposible, Bølgen cruza os limites de um filme de acção onde o terror sentido não se prende com um qualquer registo sobrenatural ou extraterrestre mas sim com aquele provocado pelas próprias condições geográficas sentidas num planeta em constante mutação. Com um sentido apurado de alerta sobre as já há muito sentidas alterações climáticas - talvez aquela que seja a mensagem principal de Bølgen -, esta longa-metragem norueguesa - invulgar para o seu cinema bem como para o europeu - apresenta os habituais problemas reflectidos no mesmo - a dimensão do "eu", do "nós" e dos problemas sociais inerentes ao abandono de um lar geográfico que caracteriza as vivências e o "ser" enquanto parte do mesmo - enquanto que, ao mesmo tempo, se preocupa por entreter o espectador com um filme de acção bem construído (mesmo com alguns lugares comuns como aquele em que o descrente superior se sacrifica para, mais tarde, não dar a cara face à sua inércia), com segmentos de uma intensidade cortante onde o espectador desespera por assistir aos efeitos devastadores de uma catástrofe natural e também às suas igualmente mortíferas consequências - pois nem todo o "terror" termina quando o susto passa... - e o esperado clímax final onde depois de uma luta intensa... conseguirão todos os improváveis heróis sobreviver?...
Bølgen é, enquanto o chamado "filme catástrofe", uma agradável surpresa (qual de nós o esperava vindo de uma cinematografia improvável?!), que não é menor face aos seus "congéneres" norte-americanos e que "aplica" ao mesmo uma realidade geográfica do país sem que para manifestar toda uma acção ou evento necessite de recorrer a fenómenos improváveis. Aqui o terror é uma potencial realidade - já manifestada no passado - tendo portanto a necessidade de ser controlado - como se alguém controlasse a natureza "questionam" os argumentistas - deixando, no entanto, como única possível resposta que após o evento registado resta àqueles que o testemunham a sua resposta rápida... preferencialmente eficaz... e que no seio de um rasto de destruição e numa morte que parece bater sistematicamente à porta, apenas a união (esperada ou não) define o carácter e principalmente a sobrevivência de todos aqueles que testemunham "a onda".
Equilibrado desde o primeiro instante sabendo habilmente dividir os momentos reflexivos daqueles de maior intensidade - quer de acção quer dramática - Bølgen cativa pela beleza natural de uma relativamente desconhecida Noruega bem como pela forma como apresenta aquele que é, no fundo, o verdadeiro terror e o qual ninguém consegue conter... ou seja, o que pode ser provocado por um planeta que está efectivamente saturado.
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7 / 10
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