quinta-feira, 29 de setembro de 2016

E as Coisas se Encostam (2016)

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E as Coisas se Encostam de Fabiano Araruna é uma curta-metragem brasileira de ficção presente na competição de Agosto do Shortcutz Rio de Janeiro e que relata uma pequena história de incomunicabilidade no seio de uma família dita tradicional.
Quando pai e filha não conseguem comunicar entre si, a jovem adolescente cria um jogo infantil que lhe permite captar a atenção do seu pai... um artista.
Este distanciamento entre pai e filha - e de certa forma de toda a família incluindo uma mãe distante - fruto de um conflito geracional que separa o casal da sua filha adolescente, pode inicialmente atribuir-se a uma vida desprendida de uma certa responsabilidade, ou até mesmo libertinagem, tanto de pai - um artista com uma notória e aparente sede de criar - como por parte da sua filha adolescente que necessita de uma vida rebelde e tenta de forma quase desesperada criar uma forma de comunicação com um pai que parece ter tempo para a sua arte... mas não para ela.
Através das palavras de um livro outrora escrito mas que é - agora - apagado transformando toda a sua mensagem numa nova forma de comunicar, E as Coisas se Encostam é, essencialmente, a vontade de comunicação e diálogo não oral num mundo que com todas as tecnologias que aproximam os indivíduos parece, lentamente, criar inúmeras barreiras que os afastam dentro do mesmo espaço. De forma (in)consciente, Fabiano Araruna estabelece então uma directa relação entre as palavras escritas noutros tempos, e a possibilidade desse veículo - o livro - conseguir aproximar duas mentes separadas pela idade mas, no entanto, próximas pelos laços familiares, pela arte a que ambos recorrem para se (re)conhecerem e pela franca vontade de se sentirem alguém num lar onde todos parecem ser invisíveis.
Tendo sempre em mente que E as Coisas se Encostam é um elogio à necessidade de se sentir sem que esta acção se manifeste de facto num toque ou que a necessidade da jovem adolescente em estar ligada a algo que parece nunca ter experimentado, esta curta-metragem centra toda a sua dinâmica na construção de um clímax que, a certo momento, se torna perceptível para o espectador como o falhanço de uma ligação familiar inexistente. Da construção de uma união não sentida e que apenas se confirma pela execução de facto de laços familiares genéticos mas pouco vividos.
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7 / 10
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