sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Villmark 2 (2015)

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Villmark 2 de Pål Øie é uma longa-metragem norueguesa em competição ao Prémio de Longa-Metragem Europeia presente nesta décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer no Cinema São Jorge.
Aquando da demolição de um sanatório, três homens e duas mulheres com profissões muito específicas são contratados para registar os detritos infecto-contagiosos ainda dispersos pelo edifício e recolher os documentos que ainda subsistam no mesmo.
À medida que os cinco se dispersam pelo local e com a misteriosa companhia de um antigo segurança no local, o sanatório parece cada vez mais assombrado por uma história do passado e por estranhas e improváveis presenças que surgem pelo espaço do mesmo. Estará o velho sanatório tão isolado e abandonado quanto parece?
Depois de Shelley (2016), Ellen Dorrit Petersen regressa ao MOTELx com mais uma história de um terror pouco sobrenatural cujo argumento de Kjersti Helen Rasmussen e Pål Øie leva o espectador para uma viagem onde aos resquícios das experiências médicas do nazismo voltam a estar em cima da mesa - temática esta cujo horror está bem presente no imaginário colectivo - deixando também portas abertas para todo um conjunto de situações que se tornam assustadoras - o tal terror psicológico - pelo espaço geográfico envolvente, por si só origem de uma intensidade marcante.
Aqui encontramos "Live" (Petersen), uma mulher obstinada e determinada em executar bem uma missão que começa rapidamente a denotar contornos mais sombrios e inesperados revelando, igualmente, um passado oculto dos propósitos daquele sanatório perdido nos confins de um vale isolado. "Live" e os seus parceiros de trabalho iniciam a viagem por este sanatório encontrando pelos seus corredores pequenos sinais de que não se encontram sózinhos no mesmo e que algo de secreto - mas intencional - ocorre por entre as suas paredes. Decididos em entregar os seus relatórios bem como em descobrir aquilo que ali se sucede, os cinco começam a desaparecer por entre os corredores do mesmo e a nossa protagonista luta pela sua sobrevivência e fuga de um espaço que parece transformá-la num rato num labirinto.
Com o elemento da mutação genética semi-oculto dos propósitos desta história, o espectador deriva por estes espaços que ganham contornos claustrofóbicos e assustadores pela incerteza daquilo que poderá surgir ao virar da esquina e pela ideia subjacente de que o mal - o verdadeiro mal - pode não só criado como alimentado e acarinhado como um comportamento normal, previsível e até mesmo desejado. Esse mal nascido e depois criado, fruto de um conjunto de experiências genéticas que permitam - no pensamento que deriva de uma ideologia de uma superioridade inexistente - criar um super ser-humano capaz das mais improváveis proezas distancia o espectador do tal ideal do mal "sobrenatural" (apesar de se teorizar que os nazis eram fanáticos pelo mesmo), dando forma ao mal real... aquele que existe e surge como o resultado de uma entidade "educada" no seio de uma vivência extrema e de constante provação vendo nas dificuldades alheias sinais de fraqueza e, como tal, de seres inferiores a serem eliminados. Neste cenário extremo onde cinco indivíduos habituados a uma socialização estranha para aqueles que dela foram isolados, o espectador encontra num ser - pouco humano - que personifica esse mal, esse "ideal" de indiferença causador de dor e sofrimento e, sobretudo, alguém incapaz de empatizar com as dificuldades ou necessidades do "outro"... criando portanto a tal máquina de morte perfeita e insensível adaptada às dificuldades de um mundo exterior (aqui também presente a alteração genética "trabalhada").
Villmark 2 expõe assim a capacidade de criar um terror ambiental e psicológico - fruto do espaço em que a acção deste filme se desenvolve - num conto que transforma factos históricos em certezas do sobrenatural exibindo uma interessante e tensa atmosfera de suspense que dinamiza a História, o espaço e o ambiente, usando o cenário "natural" para recriar um intenso labirinto do qual parece impossível escapar.
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7 / 10
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