Nem Respires de Fede Alvarez é a segunda e mais recente longa-metragem do realizador de Evil Dead (2013), numa história que tenta recuperar a essência do filme "prisão domiciliária" numa luta entre assaltantas e vítima que, a seu tempo, todos surpreende.
Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Dabiel Zovatto) assaltam casas numa tentativa de saírem da sua Detroit natal. Quando um dia decidem entrar na residência de um homem cedo e de alguma idade (Stephen Lang), não esperavam que este fosse o seu último e mais arriscado golpe testando todos os seus limites e ainda a sua própria existência. Poderão eles sobreviver a este nunca conhecido desafio?
Fede Alvarez e Rodo Sayagues escrevem este argumento que se distância do tradicional filme de invasão domiciliário pelo simples prazer de cumprir um mal maior e um lucro fácil à custa do trabalho alheio, na medida em que tenta - por momentos - incutir um sentido nas acções do trio de assaltantes; a sua desesperada tentativa de sair de uma vida cheia de dificuldades e de uma marginalidade que lhe está inerente, leva os protagonistas a dedicarem-se a uma vida que desafia a leia e, à sua medida, esperar um futuro melhor.
De uma Detroit que caiu nas malhas de uma crise económica da qual ainda não conseguiu recuperar, levando assim os seus habitantes a um vida sem projectos, Fede Alvarez transforma com o seu ritmo habitual - mas ainda não ao nível de Ataque de Pánico (2009) ainda que sob uma perspectiva francamente diferente - todo esta longa-metragem num jogo de gato e do rato e em simples corredores de uma casa num labirinto cheio de armadilhas, surpresas e alguma intensidade.
No entanto, incapaz de conferir às desventuras dos três jovens aquele pânico e terror que se esperaria deste filme, Alvarez acaba por transformar aquilo que deveria ser assustador em momentos previsíveis e, um ou outro, numa amálgama de lugares comuns já vistos em dezenas de outras obras do género que - melhor conseguidas - só remetem o espectador para aquele pensamento do "já vi isto no filme x"...
Se por um lado o espectador cria uma empatia inicial com o par protagonista - Levy e Minnette - esperando ansiosamente que a sua vida potencialmente marginal lhes possa conferir a oportunidade de abandonarem um local que não os deixa crescer, é a personagem interpretada por Stephen Lang, um homem cego e eventualmente mais debilitado, que nos faz pensar que este homem terá o seu canto no céu. No entanto, à medida que a invasão à casa do mesmo ganha forma, o espectador compreende que este homem é tudo menos uma vítima inocente de uma qualquer sociedade que, aparentemente, se esqueceu dele num local que é agora desertificado no "coração" de uma cidade fantasma. Os contornos de malvadez que Lang confere à sua personagem transformando-o de vítima em predador e, por consequência, a dupla resistente de predadores em vítimas incapazes de resistir, são intensos, cruéis e por vezes com o requinte necessário para percebermos que aconteça o que acontecer, o legado deste homem estará intacto (literalmente...).
No entanto, como nem tudo pode ser tão perfeito como eventualmente parece, Fede Alvarez acaba por transformar o seu filme de um pretendido suspense (in)tenso, numa obra que o espectador facilmente consegue adivinhar para que caminhos segue. Desde os sobreviventes às vítimas, dos destinos aos desejos sem esquecer a habitual "vítima" pela qual se tem simpatia que, nem ela, consegue sobreviver. E se de vítimas o filme está cheio - que está - é aquela sombria e tenebrosa cave que acaba por revelar a maior surpresa de Don't Breathe sem que, no entanto, a deixe levar a bom porto. Sem nenhum spoiler que prejudique aqueles que querem perder noventa minutos das suas vidas, o segmento da incubação de "Rocky" e o destino que ela dá àquela bomba... não só são prejudiciais para a narrativa como conseguem destruir - em absoluto - qualquer tensão dramática que este filme pudesse ter até então.
Com um final relativamente previsível não só no que diz respeito a quem sobrevive como principalmente de que forma e onde, Don't Breathe ainda não é aquela grande prova de fogo que ateste sobre a capacidade narrativa e direccional de Fede Alvarez - reconhecidos que estão os seus méritos enquanto autor - confirmando apenas a sua vontade de construir obras de género que, até ao momento, não serão ainda as referências que (lhe) são desejadas confirmando apenas Stephen Lang como aquele grande novo vilão que certamente irá participar em muitas longas do género em questão.
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6 / 10
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