Tickled de David Farrier e Dylan Reeve é um documentário neo-zelandês presente na secção Doc Terror da décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror a decorrer até ao próximo dia 11 de Setembro no Cinema São Jorge.
Tudo começa com um vídeo de cócegas. Aquilo que parece um "desporto" relativamente inocente onde os grupo de homens adultos se predispõe a ser filmado enquanto outros lhe fazem cócegas, rapidamente se transforma numa rede de perseguição, difamação e insulto que atormenta as vidas daqueles que se predispuseram a participar numa actividade que - pensavam - lhes iria conferir alguns dólares a mais nas suas contas bancárias e seria facilmente esquecido e apagado das suas vidas.
O realizador e jornalista David Farrier que deu origem a toda esta investigação como uma inicial - e já habitual no seu espaço - notícia bizarra sobre as mais variadas actividades com que se depara na sua vida profissional. Cócegas... um acto que tão habitualmente faz as pessoas sorrir (ou rir) e que se constitui - em princípio - como um elo de ligação entre amigos ou apaixonados que partilham momentos de cumplicidade é, no entanto, apresentado neste documentário como a origem de um terror moderno no qual se torna difícil de sair àqueles que nele caem. Farrier, cuja actividade lhe suscitou curiosidade, entre num submundo de insinuações, ameaças e, no fundo, uma nova forma de bullying - cibernético - descobrindo dessa forma todo um novo conjunto de vítimas que vivem um problema sofrido em silêncio e que tenta recompôr uma vida saudável que aparenta tê-los abandonado faz tempo.
Uns como forma de fazerem algum dinheiro fácil que solucione problemas complicados nas suas vidas, outro pelo enriquecimento fácil que lhes permite ter todo um conjunto de bens aos quais, de outra forma, não teriam acesso e outros ainda que se deixam levar por esta actividade como um método de alcançar prazer e excitação sexual têm em comum o facto de terem de forma mais ou menos inocente entrada numa rede de chantagem e perseguição que lhes tem, inclusive, destruído a vida das mais diversas formas.
Farrier e Dylan Reeve entram assim a bordo da construção de um documentário que se insere num panorama de terror que, livre de monstros e poderes sobrenaturais, apresenta ao espectador mais desatento as desvantagens e perigos da exposição virtual - e mais tarde pessoal - das vidas daqueles que de forma desprotegido e vulnerável se deixa levar pela ideia de um lucro rápido e fácil e que, como tal, se deixam controlar pela força de um poder oculto (que o é) mas bastante presente nas vidas de todos nós... o dinheiro. Dinheiro esse que compra vidas, que esconde segredos, que exerce chantagem sobre aqueles que pretendem uma ideia de liberdade agora ilusória e (in)voluntariamente perdida e que se esconde longe dos meios com poucos privilégios, muita ambição e alguns sonhos apenas acenando e facultando aquilo que sabe poder e querer comprar, controlando dessa forma, tudo em seu redor.
Assustador pela forma como o espectador percebe toda uma teia que se forma em "seu" redor e principalmente pela ideia de que um acto que poderia surgir de uma empatia e de uma troca de toques (ou afectos) entre duas pessoas que (eventualmente) gostassem uma da outra encorpora, por sua vez, toda uma componente maliciosa e pervertida que corrompe, destrói e ameaça, exercendo uma vontade de poder, chantagem e bullying sobre aqueles que desafiam quem pode.
Deixando a leve nota mental de que ninguém - nos dias que correm - pode escapar a uma ameaça à qual se abre a porta, Tickled esconde ainda subtilmente a ideia de um perigo que, infelizmente, não é tão virtual como aparenta ser e que a ninguém deixará vontade de (sor)rir.
Assustador pela forma como o espectador percebe toda uma teia que se forma em "seu" redor e principalmente pela ideia de que um acto que poderia surgir de uma empatia e de uma troca de toques (ou afectos) entre duas pessoas que (eventualmente) gostassem uma da outra encorpora, por sua vez, toda uma componente maliciosa e pervertida que corrompe, destrói e ameaça, exercendo uma vontade de poder, chantagem e bullying sobre aqueles que desafiam quem pode.
Deixando a leve nota mental de que ninguém - nos dias que correm - pode escapar a uma ameaça à qual se abre a porta, Tickled esconde ainda subtilmente a ideia de um perigo que, infelizmente, não é tão virtual como aparenta ser e que a ninguém deixará vontade de (sor)rir.
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