Holidays de Kevin Kölsch, Dennis Widmyer, Gary Shore, Nicholas McCarthy, Sarah Adina Smith, Ellen Reid, Anthony Scott Burns, Kevin Smith, Scott Stewart e Adam Egypt Mortimer é uma longa-metragem norte-americana - composta por várias curtas-metragens - presente na secção Serviço de Quarto da décima edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que amanhã termina no Cinema São Jorge e que relata um conjunto de situações bizarras que ocorrem nos momentos festivos mais emblemáticos da cultura ocidental.
O primeiro segmento Happy Valentine's Day (Kölsch e Widmyer) relata a vida da inadaptada Maxine (Madeleine Coghlan), uma adolescente que tem uma paixoneta secreta pelo professor de Desporto mas que sofre de bullying às mãos das demais colegas. Numa tentativa desesperada de conquistar o professor, Maxine entrega-lhe o coração. Num registo de história de amor trágica e, obviamente, sangrenta, Happy Valentine's Day prova as perversas consequências de um amor não correspondido.
Em Happy Saint Patrick's Day (Shore) - Santo Padroeiro da Irlanda por ter expulso todas as cobras venenosas do país - Grainne (Isolt McCaffrey) é uma reservada e enigmática menina que olha com algum desdém para os que a rodeiam. Quando descobre o objecto de desejo da sua professora, Grainne fará com que este se concretize e, ao fim de mais de um ano esta dá à luz... aquilo que fora outrora banido e agora celebrado num ritual pagão. Tão enigmático como a própria "Grainne", Happy Saint Patrick's Day vive no seio de um absurdo místico que transcende o espectador e que se torna, por momentos, difícil para com ele criar alguma empatia.
Happy Easter (McCarthy) é o segmento que se segue no qual uma jovem menina revela à sua impaciente mãe o receio que tem das misteriosas histórias de Jesus ressuscitado dos mortos e de um potencial gigante coelho que invade as casas pela calada da noite deixando por elas os cobiçados ovos de chocolate. Quando a curiosidade invade o pensamento de uma jovem criança, poderá a descoberta revelada ser mais assustadora do que a própria imaginação cruzando os símbolos de duas épocas tão especificas?
Num segmento que consegue criar alguma tensão, McCarthy brinda o espectador com um misto de drama e história sobrenatural deixando no ar uma potencial justificação para os misteriosos desaparecimentos de crianças numa noite que é feita para as surpreender e agradar.
Em Happy Mother's Day (Reid e Adina Smith) conhecemos a improvável história de uma mulher que não deixa de engravidar mesmo que não o pretenda, recorrendo à interrupção sistemática da mesma. Depois de se dirigir a um retiro de mulheres, o plano que estas têm para o seu destino é para que esta se torne na solução para todos os seus problemas... Com um fundo assumidamente pagão alicerçado nas origens de um culto/seita com planos muito próprio, esta curta-metragem é eventualmente aquela que, para lá do culto de fertilidade extremo (ou talvez não), se consegue inserir numa dinâmica mais actual tecendo um retrato mordaz de grupos organizados e nem sempre muito claros aos olhos da lei.
Com Happy Father's Day (Scott Burns) - eventualmente a melhor curta-metragem de todo o filme - conhecemos Carol (Jocelin Donahue) que recebe uma estranha encomenda no Dia do Pai. Anos depois do desaparecimento do seu pai, Carol escuta uma gravação do mesmo com indicações precisas para o voltar a encontrar reconstituindo momentos da sua infância que a transportam a um lugar familiar onde tudo aquilo que conhece como real será posto em causa.
Num registo de filme macabro onde o suspense consome o espectador à medida que "Carol" se aproxima do seu destino final, Happy Father's Day celebra o género de cinema onde é retrato um culto infame que se refugia nas profundezas de um local que percebemos abandonado (talvez...?!), mas que mantém intactas as estruturas de um passado distante. Incerto - o espectador - sobre os destinos daqueles que o habitaram, fica no entanto claro que todo o espaço contém uma misteriosa e incomodativa alma que parece querer despertar a qualquer instante. Tenso e por vezes até mórbido na construção da sua atmosfera, Happy Father's Day é um filme que incomoda e cria a estranha sensação - para o espectador - de que algo o observa para lá das sombras que escondem quem quer seduzir sem, no entanto, ser visto e encontrado.
Happy Halloween (Smith) - festividade tão familiar ao género - leva o espectador a uma viagem a um pequeno apartamento onde um conjunto de jovens ganha a vida em chamadas de video-conferência erótica. Depois de perseguidas e ameaçadas pelo homem que as mantêm a "trabalhar" para ele, as três jovens - número suficiente para uma "sisterhood" de bruxas - decidem tomar as rédeas ao negócio e impôr as suas próprias ordens. Mórbido pela comédia que consegue criar mas o típico filme que Kevin Smith poderia apresentar dentro do género, este é também aquele com quem o espectador mais se identifica na perspectiva da vingança que é cozinhada num grande e omnipotente caldeirão... E aquele onde a potencial vítima... conquista e triunfa sobre o seu agressor.
Em Merry Christmas (Stewart), Pete (Seth Green) tenta desesperadamente encontrar uns óculos interactivos, o brinquedo perfeito para o filho. Mas estes óculos escondem uma função muito particular ao mostrarem o passado daqueles que os usam pelos olhos dos que foram suas vítimas... Conhecerá Pete aquilo que dele pensam e, mais importante, aquilo que pensam e fazem aqueles com quem vive?
Num misto de história de vingança pessoal que, no entanto, revela a psicopatia mais íntima de cada um, Merry Christmas é tudo aquilo que qualquer um não esperaria de um verdadeiro e sentimental conto de Natal e um simpático regresso de Seth Green a uma interpretação protagonista mostrando o melhor que dele vimos do tão célebre Austin Powers (1997).
Finalmente, e porque todos os anos chegam ao seu final, Happy New Year's (Egypt Mortimer) revela a história de Reggie (Andrew Bowen), um homem desesperado por encontrar o seu par para a passagem de ano depois de assassinar a sua última namorada. Quando conhece Jean (Lorenza Izzo), os seus planos parecem confirmar-se até que ela revela os seus próprios esqueletos no armário. Nesta intensa história que revela que nem todas as aparentes vítimas realmente o são, Egypt Mortimer cria a perfeita história para um final de ano animado que revela que nem todos os novos anos trazem novas perspectivas de vida.
Com um conjunto de simpáticos e intensos segmentos que destoam com outros que prejudicam a intensidade do género, Holidays funciona enquanto um receptáculo de homenagem a todas as festividades "lamechas" que todos nós temos de "aturar" ao longo do ano mas que perde um pouco por não funcionar como um todo mas sim por algumas das suas partes. Com elementos técnicos muito bons como a fotografia de Happy Father's Day ou Merry Christmas, Holidays tem, no entanto, alguns outros segmentos que se perdem num misticismo pouco decifrável e que, como tal, provocam um distanciamento do espectador que, considerando o filme, espera mais sangue, mais mortes e mais vingança vindas das "suas" personagens.
No seu todo... tem os seus momentos frágeis que prejudicam a globalidade... enquanto curtas-metragens são, muitas delas, intensos filmes de suspense, mistério e até terror que não deixam o espectador mais atento - os óbvios fãs - desiludidos com aquilo que é proposto e apresentado pelos seus realizadores e argumentistas funcionando num crescendo de terror... de festividade em festividade.
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7 / 10
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